Quarta-feira, 27 de Agosto de 2008
Rua Marceliano de Arújo
RUA MARCELIANO DE ARAÚJO Principiando na rua Frei Cipriano da Cruz, e terminando na rua Leandro Braga, da freguesia de Ferreiros, a rua Marceliano de Araújo, vem recordar – “grandioso o seu nome como é a sua arte” - um escultor do século XVIII que deixou três das mais importantes obras de talha da cidade de Braga: os retábulos da Igreja da Santa Casa da Misericórdia, as Caixas dos Órgãos da Sé de Braga e púlpito da igreja da Penha. Marceliano de Araújo morreu em Braga no ano de 1769, após uma longa carreira de escultor. No entanto poucos, muito poucos, sabem algo deste artista da talha. A memória deste entalhador a que Braga tanto deve, estava perdida e, de tal maneira que o seu nome nem figurava sequer em “nenhum compêndio de história local”. Não fora o estudo do consagrado investigador da arte portuguesa, o americano Prof. Robert C. Smith, o nome de Marceliano de Araújo, continuaria escondido, caso não raro em Portugal onde “a identidade e as obras dos que fizeram a talha de Seis e Setecentos foram esquecidos no século passado, quando os maiores críticos teimavam em negar quase universalmente o valor estético da talha, classificando-a, aliás como qualquer outra manifestação do barroco nacional, de mau gosto e sem interesse”, diz Robert C. Smith. Este consagrado crítico de arte, continua afirmando que se trata de uma grande injustiça, dado que a talha foi “a grande expressão artística do povo português nos séculos XVII e XVIII”. Foi nesse estilo opulento que Marceliano de Araújo, baseado nos desenhos que até si chegaram da escultura berniniana da Roma de Seiscentos, criou os seus principais monumentos. No entanto soube imprimir, possivelmente, um modo próprio, um estilo que através das suas obras se pode observar e é quase sempre repetitivo nos seus trabalhos: as figuras dos Atlantes, gigantes fabulosos, figura de homem, por vezes mitológicos, como faunos com pés de cabra e corpo humano que parece sustentaram sobre os sues ombros os pesados elementos das ordens arquitectónicas. Como exemplos podemos ver os sátiros mitológicos da Caixa dos Órgãos da Sé de Braga, ou ainda no púlpito do Igreja de Nossa Senhora da Conceição da igreja da Penha, nos retábulos a Igreja da Misericórdia ou ainda, para não ser muito extenso nesta análise, em vários altares da Igreja de Nossa Senhora das Graças do Pópulo. Segundo Robert C. Smith, Marceliano de Araújo “empenhou-se na grandiosa obra de substituir os velhos retábulos da igreja da Santa Casa da Misericórdia”, dando-nos nesta impressionante tarefa “um dos mais ricos e teatrais (aspectos) de toda a talha portuguesa”. A pintura do quadro na cortina que tapa a boca da tribuna, representando Nossa Senhora da Misericórdia protegendo debaixo do seu manto várias figuras, é devida ao pintor Joseph Lopes, que a executou, recebendo, pelo trabalho, a quantia de noventa mil reis. Representa em grande plano, como dissemos, a imagem de Nossa Senhora “com a mais fábrica de Anjos e sup.s , tudo como o pede o rigor”, diz o contracto para a sua feitura. Estes retábulos fases executados em duas fases. Na primeira não iam até ao tecto da capela-mor. Mais tarde achando a mesa que eles deveriam ser rematados no tecto, encomendou a um outro artista o trabalho, descurando o primitivo, talvez por o considerar de avançada idade e como tal poderia não cumprir com o que desejam. Serviram-se então de um artista amador. O rev. Ricardo da Rocha, o que por certo para Araújo teria sido humilhante. Mas o complemento não agradou e então de novo recorreram a Marceliano, que apesar da idade aceitou, mas teve de recorrer a André Soares para o ajudar a terminar a obra. Robert C. Smith. no seu trabalho “Marceliano de Araújo, Escultor Bracarense”, editado por NELITA – Porto 1970, cita 49 vezes, entre obras e pormenores, trabalhos deste artista bracarense no Porto, Braga e freguesias, pelo que se pode avaliar do que foi a sua acção na arte da escultura em talha e, não só, também na iluminura e pedra, durante a sua vida de trabalho. Deixou-nos, Marceliano de Araújo, verdadeiras jóias da talha. Na cidade de Braga, podemos admirar, com já se disse, o magnífico púlpito na pequena igreja da Penha, a talha dos retábulos da Misericórdia, a Caixa dos Órgãos da Sé, o retábulo do altar de Nossa Senhora dos Prazeres, na igreja de São Paulo ( Seminário ), a capela das Almas, na Aveleda, e na pedra o chafariz do Pelicano, na praça do Município. Ainda, talvez se possa atribuir ao seu talento o chafariz de Dom Rodrigo, no largo do Paço e o púlpito da igreja do Salvador. Mas Smith foca também em estampas os cadeirais de S. Bento da Victória, no Porto e, em Braga, trabalhos em São Vicente, S. Francisco, Santa Cruz, Congregados e, no campo de Artes Gráficas, os códices do Arquivo de Santa Cruz. Atribuindo a Câmara de Braga, o nome do escultor e entalhador Marceliano Araújo, veio de certa maneira relembrar o nome de um bracarense que impôs a arte da talha no século XVIII. Braga, 24 de Abril de 2008 LUÍS COSTA


publicado por Varziano às 16:25
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