Quinta-feira, 28 de Agosto de 2008
A nação Quioca
A NAÇÃO QUIOCA E A ESPINGARDA LAZARINA Os quiocos, povos do centro de Angola, consagravam, a partir de 1830/1840, a sua actividade quase em exclusivo à caça do elefante, pelo valor do marfim das suas presas, alargando por vezes, de acordo com as suas necessidades de caça, às áreas para norte e nordeste, e também para sul e sudeste da sua região. O aumento da procura em outras regiões limítrofes da nação quioca do grande mamífero ficou a dever-se à enorme procura e o interesse comercial resultante de que o marfim passou a ter pelos europeus, e tendo como especial motivo o facto de em 1834, ter sido liberalizado o seu preço o que levou a uma maior procura do marfim pelos caçadores, resultando desta maneira uma maior oferta, e assim os comerciantes portugueses obterem, por conseguinte, possibilidades de lucro mais acentuadas. A caça era então feita através de instrumentos tradicionais – arcos, flechas, lanças, zagaias e armadilhas. Depois, por volta de 1846, os quiocos passam a aliar aos seus métodos tradicionais, uma nova arte na caça – a utilização das armas de fogo - e é então que aparece uma espingarda que deu grande incremento à caça do elefante e por vezes, também à do rinoceronte, aumentando desta maneira os seus proventos, aliás em prejuízo da conservação das espécies. Segundo nos revela Isabel Castro Henriques, no seu estudo “Os pilares da diferença relações Portugal-África séculos XV-XX”, pag. 380 e seguintes, nos princípios do século XIX “as populações do Lovar e do Quibouco… não utilizaram outras armas para além das lanças… e uma espécie de grande faca em forma de coração… e…arco e flechas, mas não têm armas de fogo, mas por volta de 1846, os quiocos caçam combinando as suas armas tradicionais com a espingarda europeia: o animal depois de cair na armadilha, é abatido a tiro…”.(1) Nos finais do século de setecentos, aparece no mercado uma espingarda que se veio a impor como de grande valia. Em nota, no roda-pé descreve Isabel de Castro Henriques essas armas “como muito compridas de pequeno adarme (calibre) e de sílex “ dizendo após “são fabricadas na Bélgica e tiram o seu nome de um célebre armeiro português que viveu na cidade de Braga, (o sublinhado é nosso) no princípio desse século (finais de XVIII e princípios de XIX), cujos trabalhos chegaram a atingir grande fama em Portugal e nas Colónias”. (1) No entanto, na mesma nota de roda-pé, diz que as armas, fabricadas na Bélgica, eram uma imitação grosseira, das perfeitas armas produzidas pelo armeiro bracarense, e eram destinadas aos nativos africanos. Informa também que o nome do fabricante era Lázaro Lazarino, natural de Braga, nome que sempre se encontrava gravado nas armas que então ficaram conhecidas como LAZARINAS. Anota ainda que na “segunda metade do século XVIII, (se) tinha conhecido (em Portugal) uma produção crescente de armas, em particular no Norte do País.” Assim aparecem as armas de um armeiro estabelecido em Braga - Lázaro Lazarino -, cuja presença em Braga, parece imputar-se a esse período, como pode provar-se pelas armas assinadas e datadas de 1783. Explica também que desde o primeiro quartel do século XIX, a indústria de armas, em Portugal, entra em crise, praticamente “devido a factores como o preço do ferro importado, problemas tecnológicos impedindo a produção integral do produto, organização artesanal da produção que impedem qualquer concorrência ( qualidade e preços ) com a produção estrangeira”.(1) Logo, a produção de armas nacionais, não pode satisfazer a grande procura das lazarinas, tanto no País, onde é muito apreciada no Norte para a caça, como no Brasil e Angola. Dada a grande dificuldade de Lázaro Lazarino satisfazer a excepcional procura das suas armas, no final do século XVIII, passa a importá-las da Bélgica, copiadas das suas e nelas grava o seu nome e a sua marca. Lê-se também no estudo acima citado que o mestre bracarense, a principio importou só os canos, e que depois eram acabadas na sua oficina de Braga, mas depois, já na década de 1830, principia a fazer a importação integral dessas armas que, imperfeitas como já se disse, eram mais destinadas à população indígena sendo, por vezes, “africanizadas” e utilizadas “como um instrumento de trabalho eficaz e inovador”. Eram também consideradas pelos imbangalas, como sinal de prestígio. E, como tal, especialmente destinadas aos chefes. As verdadeiras, tinham outro destino, os colonos. (1) Quem era esse artesão armeiro Lázaro Lazarino ? Segundo a opinião do consagrado investigador Prof. Doutor Aurélio de Oliveira, “não deixa grandes dúvidas sobre a sua origem italiana”. Diz que “outros italianos, existiam ao tempo na cidade …”, afirmando depois em nota, “Aqui ( Lázaro Lazarino ) se vem instalar. Não temos dúvida da sua proveniência italiana.” (2). A fama dos artesãos que fabricavam armas em Braga, vinha de longe e o que é confirmado quando “O Grão Mestre de Artilharia de Honever, recomendava, por isso, nas suas Observações Militares dirigidas ao Conde Oeiras” em 1764 – muitos anos antes portanto do aparecimento das lazarinas – “que nenhum outro lugar no Reino parecia mais conveniente e aconselhado para fábrica de armas e munições do que o centro bracarense”. (2) (1) HENRIQUES- Isabel Castro . Os pilares da diferença relações Portugal-África, sec. XV-XX, pag. 380 e segs. (2) OLIVEIRA – Aurélio. “Indústrias em Braga”. BRACARA AUGUSTA. Vol. XLVII, pag. 168, 178 e 181. Braga, 22 de Outubro de 2006 LUÍS COSTA


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Rua Nossa Senhora do Leite
Recantos de Braga RUA DE NOSSA SENHORA DO LEITE Saindo do Largo Dom João Peculiar, para a traseira da ábside Sé, penetramos na rua de Nossa Senhora do Leite, antigamente denominada como rua das Oussias. Aqui teremos que nos de demorar um bom bocado. Há por aqui coisas que merecem a nossa atenção. Assim, logo à entrada deparamos com uma torre ameada, que serviu de sacristia à Capela Gótica de Nossa Senhora da Glória e, possivelmente, segundo alguns cronistas, deve ter sido uma das primeiras, senão a primeira Câmara Eclesiástica, e onde o Dr. Alberto Feio veio a descobrir, por entre camadas seculares de pó, pergaminhos de grande interesse para a história de Braga e da sua Igreja e, segundo informações que reputamos de fidedignas, o “LIBER FIDEI”, um cartulário medieval que, graças ao incansável labor do insigne estudioso e investigador Prof. Doutor Avelino de Jesus Costa, foi publicado em três volumes. Seguindo esta rua vamos deparar, nas traseiras da Capela de Nossa Senhora da Glória, (onde se encontra a maravilha do gótico, o túmulo do Arcebispo Dom Gonçalo), com as três janelas ogivais onde se sobressaem os lindos vitrais desta capela. Um pouco abaixo, antes do soco, uma inscrição latina chama a nossa atenção. Trata-se de um documento epigráfico, estudado por vários epigrafistas e arqueólogos, de entre os quais vamos dar a interpretação de grande mestre que foi J. Leite de Vasconcelos : “LUCRÉCIA FIDA, SACERDOTIZA PERPÉTUA DE ROMA E DE AUGUSTO DO CONVENTO BRACARA-AUGUSTANO DÁ (ou dedica )ESTE MONUMENTO Á AUGUSTA ISIS”. (ISIS, era uma deusa egípcia, relacionada com a abundância e Deusa dos Mercados, pelo que se julga que por ali seria o mercado romano) Uma outra inscrição em mármore em letra gótica, mas que por estar truncada é de difícil leitura, e que parece referir-se á capela criada por Dom João Martins de Soalhães que foi derribada para no seu lugar surgir a sacristia do Tesouro, no Rossio da Sé. Seguindo deparamos com o ábside da Sé, rendilhada jóia flamejante plataresca, de cantaria feita no duro granito da região, grades e coruchéus, de agulhas, traseira do altar-mór mandado fazer por Dom Diogo de Sousa, para substituir o primitivo, talvez românico. Na parte a meio desta fachada destacava-se a belíssima imagem de Nossa Senhora do Leite, “Obra de singular graciosidade, em Pedra de Ançã, posta sob um rico dossel com recorte de obra de Joalharia”, obra prima da imaginária da transição gótica para o renascimento, escultura atribuída a Nicolau de Chanterenne, coberta por um baldaquino gótico-manuelino, e assente numa peanha com as armas de fé do grande arcebispo Dom Diogo. Duas cartelas uma com as armas do notável arcebispo e, a outra, com as de el-rei Dom Manuel, enquadram a bela imagem. Hoje, dado o seu valor, está imagem está resguardada na Capela da Piedade, e em sua substituição foi colocada uma cópia. Nota-se aqui uma data - 1509 – que deve referir-se à da transformação da capela mor mandada executar por Dom Diogo, e da qual foram mestres os artistas biscainhos que vieram para Braga a solicitação do arcebispo para se encarregarem de diversas obras na sua cidade. A meio desta rua pode admirar-se uma casa de estilo barroco, belo edifício de linhas elegantes, mandada fazer por um cónego da Sé, e hoje pertença da família Valença. No ângulo, formando gaveto com a rua de São João do Souto, está o edifício da última Casa da Roda que existiu em Braga e onde agora onde se encontra instalada a sede da Junta de Freguesia de São João do Souto e ainda um instituição dedicada ao auxilio a jovens que demandam a cidade. Restaurado por volta dos anos 80/90 do século passado, respeitou a sua primitiva traça, que possivelmente vem dos finais do século XVII, ou talvez de antes. Já fazendo parte da rua do Forno, um oratório, que a principio esteve no ângulo desta rua com a de São João do Souto, recorda um feroz combate que por ali teve lugar entre a Divisão Cabralista, comandada pelo General José de Barros e Abreu de Sousa Alvim e as forças legitimistas sob o comando do General Macdonell, ao meio dia de 20 de Dezembro de 1846, e que segundo Albano Belino, em “Archeologia Christã”-1900 – pelo chapéus de palha com fitas vermelhas que os guerrilheiros miguelistas usavam, se nota que eram destes quase todos os cadáveres que juncavam as valetas onde o sangue escorria, misturando com a água da chuva miudinha que caía. É um original de Luís Vermell ( o peregrino espanhol ), que durante algum tempo viveu em Braga. O olhar de Cristo, revela a mestria do autor da pintura – de qualquer ângulo que o fitemos parece que nos olha. Braga, 5 de Junho de 2006 LUÍS COSTA Email: Luisdiasdacosta@clix.pt Email: Luisdiascosta@sapo.pt www: bragamonumental.blogs.sapo.pt


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A lenda do rei Ramiro
A LENDA DO REI RAMIRO Como esta lenda tem sido contada de maneiras variadas, não deixará talvez de interessar o resumo das duas versões dos Livros de Linhagens. A do Fragmento II (Ed. P.M.A. , pag. 180-181) reza do Teor seguinte: Um dia. Abencadão foi a Myer, em “Salvaterra”, raptou a mulher do Rei Ramiro e “trousse-a” para Gaia. Dom Ramiro andava pelas Astúrias: mal voltou, chamou o filho D. Ordonho, o que povoou a vila de Leão e os vassalos; embarcaram-se e vieram surgir em São João da Afurada. Deixando os companheiros escondidos entre as árvores marginais do rio Douro, abalou para uma fonte próxima do Castelo. De manhã, na ausência do Casteleiro que saíra para a caça, a covilheira (camareira) da raptada, Ortiga, indo à água, encontrou-o no disfarce de “mouro doente e lazarado”. Deixou-o beber pelo “Antre” (vasilha), no qual o rei deitou um anel. Quando a rapariga “deu água à rainha”, caiu-lhe o anel nas mãos; incontinente (imoderada) mandou-a em busca do forasteiro. Chegado este interrogou-o – Rei Ramiro quem te trouxe aqui?... Cá o teu amor: e ela lhe disse que vinha a morrer, e ele lhe respondeu, que pequena maravilha. Em seguida ordenou à covilheira que o metesse numa câmara, sem comer: a última ordem, porém, não foi cumprida. Regressado o Abencadão e findo o jantar, a rainha perguntou-lhe : “se tu aqui tivesses Rei Ramiro, que lhe farias ? O mouro então respondeu: o que mim faria; matá-lo.” Trazido o prisioneiro escreve o autor este diálogo : “és tu rei Ramiro… - eu sou… - a que vieste aqui ? Vim ver minha mulher que me filhaste (tomas-te) a torto (danosamente); cá tu havias comigo tréguas… -se me tivesses em Mier que morte me darias ?- abrira as portas do meu curral ( cercado) e faria chamar as minhas gentes e viessem ver como morrias, e fariate ( fazia-te) subir a um padrão, e fariate tanger (tocar) o corno, até que te sahice (acabasse) o fôlego.” E assim foi feito. Rei Ramiro trepou a um poste e tirando cinta a trompa de chifre, pegou a buzinar com toda a força. Ao sinal previamente combinado, acudiram o filho e os vassalos, entraram no curral do castelo e mataram quantos mouros lá havia e em Gaia. Depois filhou (tomou) rei Ramiro a sua mulher com as suas donzelas, embarcaram de rota ( de volta) batida até à foz do Âncora. Descansando aí, “D. Ramiro deitou-se a dormir no regaço da rainha, e a rainha filhouce (principiou) a chorar e as lágrimas dela caíram a D. Ramiro pelo rosto, e ele espertouse (acordou)e disse-lhe (perguntou-lhe) porque chorava e ela disse-lhe – choro por o mui bom mouro que mataste – e então o filho… disse ao pai –pia não levemos comnosco mais o demo (diabo). Então rei Ramiro filhou uma mó que trazia na nave, e ligou-lha na garganta, e anchorouha ( ancorou-a –atirou-a) ao mar, e desde aquela hora chamaram aí Foz de Ancora. De volta a Mier. D. Ramiro baptizou Ortiga com o nome de D. Aldora, e casou com ela. Deste casamento descenderam os Maias. A versão do Fragmento IV ( ed. cit. pag. 274-277) contém o fundo da anterior: basta por isso notar somente as divergências principais. Agora o rei é “Ramiro segundo”, entanto que na outra é o primeiro, pois Ordonho, restaurador de Leão, era filho deste e não daquele. O mouro – Alboazer ou Alboazer ou Alboazare Alboçadam, senhor de Gaia, tinha uma irmã, que Ramiro, apesar de casado e com filhos, queria desposar. Em virtude da negativa do irmão, veio roubá-la. Após curta refrega, levou-a a Minhor depois a Leão e baptizou-a e pôs-lhe o nome Artiga. Em represália o mouro raptou raptou-lhe a mulher a rainha Dona Aldora que estava em Minhor. Rei Ramiro correu a buscá-la com cinco galés: a covilheira “servente”, que foi à fonte tinha o nome de Perona natural de França. O resto como na versão precedente. Mais um longo diálogo entre o mouro e a rainha cristã, no qual ela persuade o raptador à execução do marido: Ramiro ouve a conversa onde estava fechado e responde de lá. Lê-se aí a frase “de má ventura é o homem que se fia por nenhuma mulher”. Tradução visível da famosa cantiga de Francisco I de França (1494-1547. Enfim rei Ramiro sobe ao padrão, tanje a trompa. Vem os companheiros e o sarracenos é trucidado com todos os seus. Quando surgiram na foz do Ancora, como a rainha chorasse o amante, por instigação do filho, Ramiro ordenou que a botassem ao mar. “E por este pecado que disse o infante D. Ordonho contra sua mãe disseram depois as gentes que por isso fora deserdado dos povos de Castela” passagem que não quadra ao filho de Ramiro II, mas a Ordonho o Mau, filho de Afonso IV (cf. Herc. Historia de Port.tom. I, pag. 145 -1467). “Rei Ramiro foisse (sic) a Leão e fez as suas cortes… e mostrou-lhes a maldades da rainha Alda sua mulher e que havia por bem casar com Dona Artiga… e eles toda a uma só voz o houveram por bem.” ESTUDOS HISTÓRICOS E ECONÓMICOS ALBERTO SAMPAIO 1ª EDIÇÃO- LIVRARIA CHARDRON - 1923 pags. 423/ 425 – Nota A


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Similitude entre duas lendas
A SIMILITUDE ENTRE DUAS LENDAS UMA GALEGA E OUTRA BRACARENSE No artigo sobre o RECANTO DE BRAGA, Largo de Infias, publicado em l de Setembro de 2006, no jornal “O Correio do Minho”, fiz referência a uma lenda que recaía sobre a CASA DE VALE FLORES., lenda terrifica, que por deixar em suspenso alguns leitores, dou hoje à estampa na certeza de que assim ficarão de posse do seu conhecimento. 3/09/06. L. C. . . . . . . Como sabemos é notória a aproximação entre as línguas galegas e portuguesa, havendo até quem afirme que o galego, pela quase ou mesmo obrigação de uma uniformidade do espanhol, como língua oficial não evoluiu, conservando-se assim mais próxima do português arcaico. Mas não só a língua nos aproxima do “nuestros hermanos” da Galiza - para os portugueses uma continuação de Portugal para o Cantábrico e para os galegos, uma continuação da Galiza para o Sul. Também os costumes, a cultura, as lendas, os contos, as crenças, são, por vezes com leves alterações, quase idênticas. E a isso cheguei graças à conclusão através de umas traduções que por mero entretenimento estou a fazer, agora que as horas vagas são muitas e esta é uma das melhores maneiras de passar o tempo que me vai sobrando, ao mesmo tempo que vou aprendendo mais alguma coisa já que “se aprende até morrer e morre-se sem saber”. Há pouco li e traduzi, do que levei ao conhecimento dos meus fiéis leitores, se é que os tenho, do culto a Santo André no Noroeste da Península, no caso entre o de Santo André da freguesia poveira de Aguçadoura e o culto ao mesmo Santo, em Teixedo, em direcção cabo Ortegal; e em outros fascículos do jornal Faro de Vigo, encontrei mais costumes, semelhantes aos processados neste nosso Minho como o rito dos banhos santos das ondas na praia de Lanzada, perto de Sansenxo, e o mesmo rito em São Bartolomeu do Mar, em Esposende; a “coca” de Monção e o festejo em Redondela. E agora, no referente à Virgem de Cristal, de novo me apareça uma lenda, muito semelhante, em certos casos, a uma que ouvi da boca da Senhora Dona Maria Henriqueta de Sousa, senhora da Casa de Vale Flores, em Infias, desta nossa cidade. É a lenda da língua, que tanto do lado de cá do Minho, como do lado do rio que nos separa, apesar do canto de João Verde “eternos namorados”, tem a mesma origem – calúnia e insídias de quem é rejeitado nos amores – e que tem quase o mesmo trágico fim. Enquanto a que nos contou a ilustre senhora e que dizem ocorreu em Vale Flores, o final é consumado pelo difamador que se suicida, na que vem narrada na “Virgem de Cristal”, o caluniador morre às mãos do ciumento namorado. Mas o instrumento que levou um e outro à morte, foi o mesmo – a língua difamadora. Mas vamos às lendas que o intróito já vai longo e, por certo talvez haja quem queira saber o desenrolar dos factos e de “lenga lenga” já estão cheios. Principiemos pela braguesa. Em tempos que lá vão em que a ida para as Índias servia para angariar grossos cabedais e até também para afogar paixões não correspondidas, na Casa de Vale Flores, vivia uma formosa jovem, dezasseis ou dezassete anos de encanto que trazia “pelo beicinho” uma nobre rapaziada. Entre eles um mais apaixonado e familiar, fazia o seu “rapa pés” à elegante mocinha. Ela, ou porque o seu coração já tinha seguido outro rumo, ou porque ainda se achava muito nova para se perder de amores, deu-lhe, como se diz hoje, com “a tampa”. Ele não desistia e sempre que podia lá estava inquietá-la. Tantas vezes “vai o cântaro à fonte” que certo dia, o despeitado teve que desistir, não sem antes arquitectar uma torpe vingança. Já que não conseguia obter os seus fins, resolveu difamá-la. Nesses tempos uma pequena a quem tivesse sido atribuído tal anátema só tinha dois caminhos – ou refugiava-se num convento ou recolhia-se em casa, sem dela sair, como tendo morrido para o mundo. O segundo foi o escolhido e assim aquela santa menina viveu quase toda a sua vida, rezando na Capela da Senhora do Pilar, anexa à casa, e perdoando ao seu difamador. Certo dia o então enamorado, já velho, gasto pelo remorso, consumido pelo desgosto e entorpecido regressa das Índias. Passa por Braga e entra na Sé, onde confessa a um velho sacerdote a sua acção e o seu arrependimento. Como remissão recebe o conselho do venerando ministro do culto, que deveria velar, durante uma noite, o primeiro cadáver que encontrasse no seu caminho. Ao passar por Infias, reparou que o brasão da casa de Vale Flores, estava coberto de luto. Sem se dar a conhecer quis saber qual a razão do luto. Um dos criados informou-o que uma santa senhora, que desde menina nunca saiu de casa, passando os dias na Capela da casa, procurando refúgio para a sua desdita na oração e contemplação da Imagem de Cristo, tinha terminado os seus dias amargos por mais de umas dezenas de anos. Compreendeu naquele instante que tinha sido ele a causa de tanta amargura, e como tinha de cumprir, para seu alento, com o determinado na confissão, fez-se passar por um peregrino da Terra Santa e ao templo do Apóstolo Santiago, oferecendo-se para velar, naquela noite, tão santo cadáver. Os donos da casa nada objectaram e na manhã seguinte ao raiar da aurora quando se dirigem à Capela para os ofícios fúnebres deparam com o horrível espectáculo de sobre o corpo da infeliz criatura, estava o corpo morto do peregrino, ostentando na mão, no gesto de entrega à defunta, a língua que tinha arrancado e numa das paredes escrita a sangue, a frase : “COM ELA TE DIFAMEI E POR ELA ME MATEI” . Ora, na versão galega da lenda da língua, o final é apenas diferente. Nesta o difamador não se mata, mas sim morre, como já disse, às mãos seu oponente, Martinho. Em Vilanova, na Galiza, havia um castelo com esbelta torre, do senhorio por volta de 1630, do grande senhor Jácome Mascarenhas. Tinha ao serviço uma esbelta moça de seu nome Rosa e também um trabalhador rural de belo aspecto, Martinho. Entre os dois, ambos órfãos, estabeleceu-se uma certa amizade que resultou na promessa de noivado, mas da formosa rapariga também estava enamorado o malicioso e brigão João de Ventrances, que ao ver-se repudiado, também, como no caso braguês, arquitectou uma torpe vingança – difamou-a alegando outros amores além de Martinho e até com o castelão Senhor de quem dependiam. Desgostoso, Martinho, renega-a, apesar dos constantes desmentidos de Rosa, que chega a afirmar a sua virtude : Cristal nunca viche que a minha igualara”. Na tristeza do seu abandono, a infeliz rapariga tem uma visão extraordinária. Aparece-lhe a Virgem, vestida ao modo galego e lhe diz : “Rosinha, a Virgem Maria trás consolo e favor”. Decorrido algum tempo, o infeliz enamorado, convenceu-se da insídia do seu concorrente Xan e logo se compromete a uma vingança : “ Juro a Deus, Xan de Ventrances, que de te hei-de arrancar a língua”. Procura o caluniador e ameaça que tem de se desmentir, quando não cumpriria o juramento. Entretanto o moço continuou com os seus trabalhos e um dia, em pleno monte desencadeia-se uma terrível borrasca. Abriga-se num tronco oco, e entretanto vai pensando na expressão de Rosa: “pura como um cristal”, e nesse instante um raio fulmina o tronco, caindo desfalecido o herói desta lenda. Ao recobrar do susto, reparou numa pedra brilhante, como ovo de galinha, talhada em fino cristal, e dentro dela uma pequena imagem da Virgem, não achando razão de que como poderia ali entrar, pois não tinha qualquer abertura. Consultados várias pessoas entendidas, incluindo clérigos que acham que só por um prodígio divino aquela Virgem – a mais pequena do mundo – estaria ali. Rosa ao ver a imagem, ficou surpresa pois viu que era a mesma da sua visão. Martinho, quis à viva força retomar o seu amor perdido mas, isso era impossível, porque Rosa tinha tomado a decisão de ingressar num convento de clarissas, em Allariz. CUMPRIU O MOÇO O SEU JURAMENTO,´ E UMA LÍNGUA HUMANA APARECEU NUMA ESTACA. O agressor não se descobre, porque a vítima agonizante, não tem voz para o declarar. Martinho, meio fugido, temeroso da justiça, corre até ao convento, durante dias e meses a fio, na esperança de ver, pelo menos através das grades da cela de Rosa, o seu perfil. Manteve-se por verão e inverno no posto de vigia, sem nunca a poder vislumbrar. O poeta Curros Enríquez, num sugestivo verso, remata assim : “…sem conhecer que as meninas que a vida a Cristo lhe oferecem, deixam à porta os amores quando no claustro se metem.” Um inverno rigoroso não o afastou dia e noite, e enquanto a neve mansamente caía, como diz o poeta Curros : “Sobre o seu corpito morto, quietas, quietamente, iam caindo…, caindo… as folhecas de neve”. Martinho deixou-nos esta lenda, de uma alma destroçada. Obs. Seguimos em parte “O Faro de Vigo” fac.43 -1993 Braga, l de Novembro de 2005 LUIS COSTA Email : luisdiasdacosta@clix.pt Visite : bragamonumental.blogs.sapo.pt


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Quarta-feira, 27 de Agosto de 2008
Farmacopeia
DOM FREI CAETANO BRANDÃO NO BI-CENTENÁRIO DA SUA MORTE Comemora-se no dia l5 deste mês de Dezembro o bi-centenário da morte do insigne arcebispo bracarense Dom Frei Caetano Brandão, o primeiro antístete que perdeu o Senhorio de Braga, por Carta de Lei de 19 de Julho de 1790, imanado pela Rainha Dona Maria I que retirava o poder e jurisdição aos Donatários, caso do arcebispo bracarense, muito embora, como o relatam os Livros de Vereações da Câmara, e da época, esta perca não lhe ter retirado certas prerrogativas, como por exemplo a nomeação ou o acordo na nomeação dos vereadores camarários, corregedores, juízes de fora, etc., mas de acordo com a mesma carta, privava-os da gerência da administração judicial prerrogativas que, julgo, vieram a ser cassadas, anos depois, talvez, com o Liberalismo, quando os membros da Câmara passaram a ser escolhidos entre pessoas gradas da cidade e por eleição feita por um certo e determinado grupos de pessoas que tinham de obedecer a disposições especiais, como provarem que pagavam ao Estado um mínimo de contribuição. Passou então o tribunal civil a ocupar o tribunal da relação arcebispal, onde se manteve até cerca de 1869, quando a Câmara de Braga comprou, creio que em hasta pública, por 9.600$000 reis, o edifício da hoje Praça Conselheiro Torres e Almeida ( Tribunal Velho ), passando o tribunal eclesiástico para a hoje rua Dom Gualdim Pais. Tomou posse do arcebispado, em seu nome em 19 de Junho de 1790, por procuração passada o Provisor Dr. Pedro Paulo de Barros Pereira, Arcediago de Olivença. A sua entrada solene na cidade foi no dia 17 de Agosto. Em Ferreiros foi esperado dos diversas individualidades civis e religiosas, onde foi cumprimentado. Na entrada cidade dirigiu-se para a capela de São Miguel o Anjo, então ainda ao cimo do hoje avenida (Carvalheiras) que tomou o topónimo da capela, onde se paramentou e tomou a Capa, a Mitra e o Báculo, seguindo de seguida a pé, com o séquito que o tinha recebido até ao Arco da Porta Nova, onde recebeu das mãos do vereador mais velho, Inácio de Macedo, as Chaves da Cidade. A recepção por parte da população da cidade foi entusiástica, muito povo no trajecto por onde S. Eminência passaria. As janelas enfeitadas com ricas colgaduras davam um ar festivo à velha urbe. Dirigiu-se então, debaixo do palio, para a Catedral, onde se cantou um solene Te-Deum, findo o qual foi para o paço arcebispal, sempre acompanhado das autoridade, pessoas gradas da cidade e muito povo, tendo então, quando assomou à varanda do edifício, de onde abençoou a multidão, as Ordenanças, correspondido com três descargas do estilo. Se a recepção ao novo arcebispo foi brilhante, parece que em muito a superaram as suas exéquias quando da sua morte em l5 de Dezembro de 1805. Podemos fazer uma pálida ideia socorrendo-nos de um manuscrito que está guardado na Biblioteca de Lisboa, e que uma cópia encadernada existe no Arquivo da Câmara Municipal de Braga ( dois volumes) e que no final do segundo faz a descrição pormenorizada do que foi essa manifestação de pesar por parte da Braga inteira. Dele vamos respigar alguns trechos: “EXÉQUIAS DO ARCEBISPO SNR. D. FREI CAETANO BRANDÃO Depois da morte do Arcebispo morrer determinou o Illmº Cabido, fazer-lhe as suas exéquias do costume para o que mandaram vir armadores do Porto e juntamente todos desta cidade para cobrir e armar toda a Sé, com digníssima armação… Andaram perto de um mês… Vieram músicos e instrumentos do Porto, Guimarães, e mais partes… com grandeza e despesas sem limite…em todo tempo desta armação estiveram soldados… de guarda a quem se pagava soldo… no dia 20 de Fevereiro de 1806, se cantaram matinas… com o Rev. Cabido… e comunidades desta cidade, á excepção dos Padre dos Congregados que não foram convidados… houve logo desordens, e não deixaram entrar a clerezia que se achava nesta cidade de toda a parte…no dia 11 pela manhã se cantaram Laudes e só depois missa do oficio pelo Deão da Catedral, e este mesmo fez a oração fúnebre …”. Enfim, fizeram-lhe as exéquias devidas e choraram a morte de tão insigne personagem, como era devido e honraram não só pela sua acção no arcebispado mas também pela sua humildade protegendo os mais necessitados com medidas que o apelidaram “Pai dos pobres”. A SUA ACÇÃO NA ESFERA DA IGREJA, E NA SOCIAL E ECONÓMICA Contrastando com os seus dois ilustres antecessores, como Príncipes Reais, tinham transformado o paço numa verdadeira Corte, mandou retirar todo o “adorno do Paço Arquiepiscopal, conservando só armada a Sala do Docel, por estarem debaixo os retratos do Papa e da Rainha - diz Monsenhor Ferreira nos “Fastos” -convertendo-o num Monasterio , e ali acabaram os jogos, as músicas, os banquetes, etc.; o Paço tomou na sua vida interna um aspecto dissemelhante do passado”, reduzindo assim o ónus que seria aplicado em obras de mais valia, tanto espiritual como material. São suas as palavras que se transcrevem: “Dois objectos, logo que entrei nesta Diocese, me saltaram à vista bem capazes de enternecer o coração mais duro e imperdenido: o desamparo, em que se lamentavam duas sortes de pessoas: velhos inválidos, e meninos órfãos e expostos”. Sem descuidar a sua obrigação espiritual, desviou a sua atenção para os necessitados e assim fundou o Seminário dos Órfãos e Expostos de S. Caetano, o Conservatório das Órfãs da Tamanca, o Asilo de inválidos, entre outras obras de benemerência que certamente ocorreriam do seu bolso. Fundou, no Hospital de São Marcos, a primeira Escola de Cirurgia. No colégio dos Órfãos, assim ficou conhecido, ministravam-se entre outras disciplinas necessárias aos estudos, e ensinavam-se artes mecânicas, no sentido de preparar aqueles que viriam mais tarde a ter ocupação rentável. Nos baixos do edifício – então na Praça Municipal, lado norte – estabeleceu uma farmácia bem provida, onde praticavam alguns órfãos debaixo da direcção de um boticário perito – a farmácia dos órfãos. Nas Carvalheiras, numa casa que comprou estabeleceu um Hospício. A SUA ACÇÃO NO ASPECTO AGRO-INDUSTRIAL Organizou nos princípios do anos de l792 – dois anos após a sua entrada na cidade – no edifício que conhecemos hoje pelo Recolhimento da Caridade, no Carmo – a Primeira exposição agrícola e industrial de Braga – percursora das actuais feiras Agro – “ com o intuito de fomentar a indústria popular, tanto no que respeita à agricultura… pelo que respeita ao comércio e ao aditamento das artes mecânicas…”. Nessa exposição atribuiu prémios pecuniários aos melhores artesãos, ao melhores produtores agrícolas, etc. Foi a primeira Festa do Trabalho, diz o citado Monsenhor Ferreira. Para fomentar a indústria de seda, então florescente na cidade, premiou aqueles que plantassem o maior número de amoreiras. Por tudo isto e por muito mais que ficou por dizer bem merece que hoje recordemos o humilde bispo do Pará, que nos finais do século dezoito, tempos difíceis, eivados do panfleretismo vindo, sorrateiramente da França, apesar de todos os cuidados de Pina Manique, governou a arquidiocese bracarense com mestria e bondade. Podemos dizer que ele não deixou monumentos graníticos como alguns dos seus antecessores, que fizeram de Braga uma cidade monumental do Barroco, mas deixou uma obra, que dois séculos passados, ainda hoje brilha como o mais puro diamante que aureolou o seu múnus – O COLÉGIO DOS ORFÃOS DE SÃO CAETANO. BRAGA. 10 de Dezembro de 2005 LUÍS COSTA Email. luisdiasdacosta@clix.pt www.bragamonimental.blogs.sapo.pt Obs. Para elaboração deste texto socorremo-nos De Monsenhor Ferreira em “Fastos Episcopais”


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Dom Frei Caetano Brandão
DOM FREI CAETANO BRANDÃO NO BI-CENTENÁRIO DA SUA MORTE Comemora-se no dia l5 deste mês de Dezembro o bi-centenário da morte do insigne arcebispo bracarense Dom Frei Caetano Brandão, o primeiro antístete que perdeu o Senhorio de Braga, por Carta de Lei de 19 de Julho de 1790, imanado pela Rainha Dona Maria I que retirava o poder e jurisdição aos Donatários, caso do arcebispo bracarense, muito embora, como o relatam os Livros de Vereações da Câmara, e da época, esta perca não lhe ter retirado certas prerrogativas, como por exemplo a nomeação ou o acordo na nomeação dos vereadores camarários, corregedores, juízes de fora, etc., mas de acordo com a mesma carta, privava-os da gerência da administração judicial prerrogativas que, julgo, vieram a ser cassadas, anos depois, talvez, com o Liberalismo, quando os membros da Câmara passaram a ser escolhidos entre pessoas gradas da cidade e por eleição feita por um certo e determinado grupos de pessoas que tinham de obedecer a disposições especiais, como provarem que pagavam ao Estado um mínimo de contribuição. Passou então o tribunal civil a ocupar o tribunal da relação arcebispal, onde se manteve até cerca de 1869, quando a Câmara de Braga comprou, creio que em hasta pública, por 9.600$000 reis, o edifício da hoje Praça Conselheiro Torres e Almeida ( Tribunal Velho ), passando o tribunal eclesiástico para a hoje rua Dom Gualdim Pais. Tomou posse do arcebispado, em seu nome em 19 de Junho de 1790, por procuração passada o Provisor Dr. Pedro Paulo de Barros Pereira, Arcediago de Olivença. A sua entrada solene na cidade foi no dia 17 de Agosto. Em Ferreiros foi esperado dos diversas individualidades civis e religiosas, onde foi cumprimentado. Na entrada cidade dirigiu-se para a capela de São Miguel o Anjo, então ainda ao cimo do hoje avenida (Carvalheiras) que tomou o topónimo da capela, onde se paramentou e tomou a Capa, a Mitra e o Báculo, seguindo de seguida a pé, com o séquito que o tinha recebido até ao Arco da Porta Nova, onde recebeu das mãos do vereador mais velho, Inácio de Macedo, as Chaves da Cidade. A recepção por parte da população da cidade foi entusiástica, muito povo no trajecto por onde S. Eminência passaria. As janelas enfeitadas com ricas colgaduras davam um ar festivo à velha urbe. Dirigiu-se então, debaixo do palio, para a Catedral, onde se cantou um solene Te-Deum, findo o qual foi para o paço arcebispal, sempre acompanhado das autoridade, pessoas gradas da cidade e muito povo, tendo então, quando assomou à varanda do edifício, de onde abençoou a multidão, as Ordenanças, correspondido com três descargas do estilo. Se a recepção ao novo arcebispo foi brilhante, parece que em muito a superaram as suas exéquias quando da sua morte em l5 de Dezembro de 1805. Podemos fazer uma pálida ideia socorrendo-nos de um manuscrito que está guardado na Biblioteca de Lisboa, e que uma cópia encadernada existe no Arquivo da Câmara Municipal de Braga ( dois volumes) e que no final do segundo faz a descrição pormenorizada do que foi essa manifestação de pesar por parte da Braga inteira. Dele vamos respigar alguns trechos: “EXÉQUIAS DO ARCEBISPO SNR. D. FREI CAETANO BRANDÃO Depois da morte do Arcebispo morrer determinou o Illmº Cabido, fazer-lhe as suas exéquias do costume para o que mandaram vir armadores do Porto e juntamente todos desta cidade para cobrir e armar toda a Sé, com digníssima armação… Andaram perto de um mês… Vieram músicos e instrumentos do Porto, Guimarães, e mais partes… com grandeza e despesas sem limite…em todo tempo desta armação estiveram soldados… de guarda a quem se pagava soldo… no dia 20 de Fevereiro de 1806, se cantaram matinas… com o Rev. Cabido… e comunidades desta cidade, á excepção dos Padre dos Congregados que não foram convidados… houve logo desordens, e não deixaram entrar a clerezia que se achava nesta cidade de toda a parte…no dia 11 pela manhã se cantaram Laudes e só depois missa do oficio pelo Deão da Catedral, e este mesmo fez a oração fúnebre …”. Enfim, fizeram-lhe as exéquias devidas e choraram a morte de tão insigne personagem, como era devido e honraram não só pela sua acção no arcebispado mas também pela sua humildade protegendo os mais necessitados com medidas que o apelidaram “Pai dos pobres”. A SUA ACÇÃO NA ESFERA DA IGREJA, E NA SOCIAL E ECONÓMICA Contrastando com os seus dois ilustres antecessores, como Príncipes Reais, tinham transformado o paço numa verdadeira Corte, mandou retirar todo o “adorno do Paço Arquiepiscopal, conservando só armada a Sala do Docel, por estarem debaixo os retratos do Papa e da Rainha - diz Monsenhor Ferreira nos “Fastos” -convertendo-o num Monasterio , e ali acabaram os jogos, as músicas, os banquetes, etc.; o Paço tomou na sua vida interna um aspecto dissemelhante do passado”, reduzindo assim o ónus que seria aplicado em obras de mais valia, tanto espiritual como material. São suas as palavras que se transcrevem: “Dois objectos, logo que entrei nesta Diocese, me saltaram à vista bem capazes de enternecer o coração mais duro e imperdenido: o desamparo, em que se lamentavam duas sortes de pessoas: velhos inválidos, e meninos órfãos e expostos”. Sem descuidar a sua obrigação espiritual, desviou a sua atenção para os necessitados e assim fundou o Seminário dos Órfãos e Expostos de S. Caetano, o Conservatório das Órfãs da Tamanca, o Asilo de inválidos, entre outras obras de benemerência que certamente ocorreriam do seu bolso. Fundou, no Hospital de São Marcos, a primeira Escola de Cirurgia. No colégio dos Órfãos, assim ficou conhecido, ministravam-se entre outras disciplinas necessárias aos estudos, e ensinavam-se artes mecânicas, no sentido de preparar aqueles que viriam mais tarde a ter ocupação rentável. Nos baixos do edifício – então na Praça Municipal, lado norte – estabeleceu uma farmácia bem provida, onde praticavam alguns órfãos debaixo da direcção de um boticário perito – a farmácia dos órfãos. Nas Carvalheiras, numa casa que comprou estabeleceu um Hospício. A SUA ACÇÃO NO ASPECTO AGRO-INDUSTRIAL Organizou nos princípios do anos de l792 – dois anos após a sua entrada na cidade – no edifício que conhecemos hoje pelo Recolhimento da Caridade, no Carmo – a Primeira exposição agrícola e industrial de Braga – percursora das actuais feiras Agro – “ com o intuito de fomentar a indústria popular, tanto no que respeita à agricultura… pelo que respeita ao comércio e ao aditamento das artes mecânicas…”. Nessa exposição atribuiu prémios pecuniários aos melhores artesãos, ao melhores produtores agrícolas, etc. Foi a primeira Festa do Trabalho, diz o citado Monsenhor Ferreira. Para fomentar a indústria de seda, então florescente na cidade, premiou aqueles que plantassem o maior número de amoreiras. Por tudo isto e por muito mais que ficou por dizer bem merece que hoje recordemos o humilde bispo do Pará, que nos finais do século dezoito, tempos difíceis, eivados do panfleretismo vindo, sorrateiramente da França, apesar de todos os cuidados de Pina Manique, governou a arquidiocese bracarense com mestria e bondade. Podemos dizer que ele não deixou monumentos graníticos como alguns dos seus antecessores, que fizeram de Braga uma cidade monumental do Barroco, mas deixou uma obra, que dois séculos passados, ainda hoje brilha como o mais puro diamante que aureolou o seu múnus – O COLÉGIO DOS ORFÃOS DE SÃO CAETANO. BRAGA. 10 de Dezembro de 2005 LUÍS COSTA Email. luisdiasdacosta@clix.pt www.bragamonimental.blogs.sapo.pt Obs. Para elaboração deste texto socorremo-nos De Monsenhor Ferreira em “Fastos Episcopais”


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A Fonte do Mundo
A FONTE DO MUNDO BAPTIZADA POPULARMENTE COMO “FONTE DO MUNDO”, ESTEVE NA NA ANTIGA QUINTA DO GRADE Para variar, vamos hoje, aproveitando “ A fonte do mundo”, falar um pouco de Mitologia e Lendas Antigas. A Mitologia “é a explicação da Fábula, isto é, da antiga religião dos Gregos e dos Romanos, ou a história suposta das Divindades do Paganismo. Este nome compõe-se de duas palavras gregas ; Mytos e logos , que significam discurso fabuloso; com efeito não é senão um tecido de fábulas ou ficções que os povos da antiguidade acreditavam como verdades religiosas; e hoje já não servem senão para proporcionar à Poesia, Pintura e Escultura as suas mais belas alegorias, e mais risonhas ficções ; …” ( 1 ) Entrando nos nossos tempos, sabemos que até há poucos anos, na antiga Quinta do Grade, cujo acesso pela rua Conselheiro Januário se fazia por um grande portão, que ficava, mais ou menos, em frente ás escadas para o adro da Igreja de São Vicente, existia uma construção, e já sem a cobertura que deveria ter tido em tempos. Com a orientação Nascente-Poente, tinha do lado nascente um nicho, no qual se via uma escultura monumental, sobre uma taça, onde era lançada água que da boca dessa escultura saía. A água sobrante escorria por uma canalização de pedra a meio da casa, mas à vista, que pela porta poente era lançada para um tanque, espécie de espelho de água, onde sobre-nadavam nenúfares, que por sua vez, por uma boca de saída fazia com que água, não transbordasse, mas sim fosse encaminhada para rega da propriedade. No interior dessa construção em ruína, podia ver-se uma escada de pedra, partindo da parte cimeira esquerda, que era a entrada para o local, onde um banco, também de pedra, corrido junto as paredes laterais servia para descanso. No terreno que circundava este conjunto, várias e coloridas japoneiras enfeitavam o local que estava encravado num socalco. Serviam não só de enfeite mas também pela sua folhagem davam uma certa frescura ao casarão aliadas ao o elemento água. Talvez por isto há quem diga que se tratava da CASA DE REFRESCO de Dom José de Bragança. Sabe-se que este príncipe arcebispo, para proporcionar aos seus familiares, pessoas gradas que o visitavam ou em festas, costumava os presentear com um REFRESCO, uma espécie do que hoje chamamos de merenda, mandava vir todos os anos dos Carris, no Gerez, em carros de bois, devidamente protegidos por palha, enormes blocos de gelo e eram guardados, para nos dias calmosos ter uma “geladeira” à mão. Se é verdade ou não, haverá por certo em Braga quem deslinde o segredo. Como principiou o interesse de salvaguardar a popular FONTE DO MUNDO ? Há anos, foi a direcção da ASPA, alertada pelo falecido sócio Dr. Artur Ferreira, que na quinta das traseiras da sua morada estava lá escondida por muitas silvas, arbustos, japoneiras e ervas um fontanário desconhecido de quase toda a gente. Logo no primeiro sábado a direcção da Aspa, juntamente com o citado sócio e ainda pelo saudoso amigo Tenente Coronel Francisco Ogando se deslocou ao lugar para ver o achado e logo ali o amigo Ogando se prontificou a conseguir junto do quartel militar um grupo de soldados para limpar o que se fez, ponto a descoberto mais um monumento barroco da cidade. Limpo o terreno, depararam-se vários elementos dispersos pertencentes a todo o conjunto. Logo se tratou de o divulgar e tratou-se de se fazer um estudo da peça. Chegou-se depressa conclusão que tratava da representação do Atlas, e que segundo o investigador, historiador, crítico de arte e professor da Faculdade de Letras, do Porto, o poveiro Dr. Flávio Gonçalves, deveria ter sido esculturado pelo artista bracarense Marceliano de Araújo. Quando da recente urbanização de Infias, foi o conjunto recolhido, e ainda bem, nos claustros do Convento do Pópulo e depois, colocado na referida urbanização não no seu primitivo lugar mas dentro do seu perímetro, ficando por muito perto, e para lembrança, uma rua com o popular nome. Pena é que os “pinxageiros” não respeitem os monumentos e não só, qualquer parede pintada de novo, é logo sujeitas às borradelas desses inconscientes que até, por vezes, usam obscenidades para manifestarem a sua pouca ou nenhuma arte e educação. Não vale a pena limpar, poucas horas passadas, de novo lá aparecem as borradelas. Vamos agora voltar mitologia, e à razão de o povo ter baptizado o fontanário como a Fonte do Mundo. Como disse nela está representado o ATLAS, sustendo o Zodíaco sobre a cabeça e as mãos. Era pai das PLÊIADES, irmãs das HÍADES, as transportadoras da chuva. Atlas foi condenado por ZEUS, o pai dos deuses e dos homens e o mais poderoso dos imortais, como castigo pela sua participação na revolta dos TITÃS, os seis filhos e seis filhas de ÚRANO e GE, ficando, pelo Deus dos Deuses, encarregado de suster os céus com a cabeça e as mãos. E dai veio a crença popular de que a figura do fontanário sustinha às costas o mundo e vai daí a FONTE DO MUNDO. Braga, l6 de Agosto de 2005 LUIS COSTA ( 1 ) – Manual Encyclopedico para uso das Escolas d’Instrução Primária – Lisboa Imprensa Nacional - 1850


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Rua Sá de Miranda
RUA SÁ DE MIRANDA O POETA DO NEIVA A rua Sá de Miranda, situada na nova urbanização que ocupa o terreno entre os edifícios do Hospital de São Marcos, Calouste Gulbenkian, nova igreja de São Lázaro, clínica e a Rodovia, passa mais ou menos por sobre o traçado da antiga muralha romana, que vindo de Maximinos, se dirigia, por certo, pelo norte da hoje rua de Diogo de Teive, Comendador Santos da Cunha, Instituto Monsenhor Airosa e, ultrapassando os Pelames, ia até perto do Hospital, seguindo depois para norte. Quando da abertura deste novo arruamento vários foram os vestígios que assinalaram a velha muralha, impedindo até que por essa razão ela não fosse entroncar na rua de São Geraldo ( Pelames ). A acta da Câmara em que na data de 1 de Julho de 1965, foi deliberada atribuir a este novo arruamento o nome do “reformador da literatura portuguesa na Era de Quinhentos”, é bastante longa. Dela podemos extrair alguns excertos, com que o vereador Dr. Américo Forte Rodrigues Barbosa, justificava a sua proposta : “A sugestão deste nome é suscitada por duas razões fundamentais : Sá de Miranda promoveu a renovação da literatura portuguesa, graças a um persistente magistério literário exercido no termo de Braga; Sá de Miranda foi uma consciência cívica que deste mesmo termo exerceu uma acção relevante de vigilância activa sobre a degeneração dos costumes, resultante da transformação económico-social do alvorecer da Época Moderna. … ( a ele ) se deve a integração da nossa literatura nas correntes modernas das letras europeias, e esta circunstância bastaria para justificar que o seu nome ficasse ligado a uma artéria da cidade…” Atribuição do nome de Sá de Miranda, foi aprovada por unanimidade. “Homem de que antes quebrar que torcer” , Sá de Miranda, no seu recanto do Minho, na Quinta da Tapada, teve ocasião de manifestar o seu Magistério Moral, através das célebres cartas endereçadas ao Rei e aos seus amigos. Homem de autoridade moral, Sá de Miranda, não hesitou em chamar os seus contemporâneos à razão e ao bom senso, numa época, diz o Dr. Rodrigues Barbosa, “o predomínio da mentalidade mercantilista vinha envenenando as consciências dos maiores do reino que, esquecidos da autoridade da conduta tradicional, vinham fazendo do mando e da ostentação centros dominantes de todo o seu labor e preocupação”. Ao retirar-se para o recanto do Minho, entre o Neiva, Homem e Cávado, Sá de Miranda, manifesta assim, a repulsa e manifestação de incompatibilidade e protesto, contra marcha errada dos grandes do reino pois a isso se opunha a sua austera consciência cívica, continua dizendo o edil Dr. Barbosa. Sá de Miranda – Francisco, o poeta-lavrador, nasceu em 1841, em Coimbra onde cresceu em corpo e sabedoria. Percorreu o mundo culto do seu tempo; foi admirado e estimado pelo rei D. João III, que constantemente lhe pedia opiniões e conselhos, e o queria sempre ao seu lado, oferecendo-lhe as melhores posições na corte, mas ele recusou preferindo adoptar como suas as terras de Entre-Homem e Cávado, cantando e sublimando as suas belezas. Faleceu em Amares, na sua Quinta da Tapada em 1558, estando sepultado na Capela da Tapada da Igreja de Carrazedo, onde uma mão caridosa fez esculpir na pedra o epitáfio, cuja tradução se reproduz : A MUSA PASTORIL AINDA NOS MATOS MAL CONHECIDA TOMOU FRANCISCO DE SÁ MUI CORTEZÃO DIZENDO GRAGAS MADURAS E GALANTERIAS SISUDAS AJUNTOU POESIA HUMANA COM SUAVIDADE DIVINA. PODENDO COM SUA ESPADA PASSAR A HONRA DE SEUS AVÓS QUIS SOMENTE PELEJAR COM A PENA DA POESIA. EM TUDO MIRANDA, E NA MORTE TAMBÉM FOI ADMIRÁVEL, EM SUAS COUSAS ESTÁ ESCRITA A GLÓRIA DA SUA PÁTRIA. Sá de Miranda, foi o introdutor na poesia portuguesa do verso decassílabo, o soneto, os tercetos e a oitava rima. Escreveu elegias, cantigas, sátiras, éclogas e duas comédias em prosa – Estrangeiros e Vilhalpandos. No dia 8 de Junho de 1923, os estudantes do Liceu de Braga, em romagem ao túmulo do seu patrono, fizeram colocar exteriormente voltada para estrada, na igreja de Carrazedo, uma lápide em mármore com a inscrição : FRANCISCUS DE SAA. DE. MIRANDA HOC. MONUMENTUM SIBI. SVISQ. ELEGIT. - - - OPTIMO. PATRONO. SUO. INSIGNQ. VATI ALVMNI. ALMI. LICAEI. BRACARENSIS. CVI, NOMEM. SAA. DE. MIRANDA. EST. DECVS. ET. PRAESIDIUM. HVNC. POSVÊRE ANNO S. = MCMXXIII Braga, 21 de Fevereiro de 2008 LUÍS COSTA


publicado por Varziano às 16:54
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Rua Teófilo Braga
RUA TEÓFILO BRAGA Situada na Urbanização da Quinta da Capela, a rua Teófilo Braga, nasce na rua das Forças Armadas e vai terminar no largo de acesso à rua Coronel Albano Rodrigues. Aquando da atribuição de topónimos à urbanização da Quinta da Capela, foi escolhido entre outras figuras relevantes da história de Braga, o nome do polígrafo português Teófilo Braga (Joaquim Fernandes Teófilo Braga), que nasceu em Ponta Delgada, Açores em 1843, e que faleceu em Lisboa, em 1924. Poeta, filósofo, polemista, folclorista, crítico e historiador literário, republicano, que pela sua acção influiu poderosamente na vida cultural e politica do País, entre parte do final do século XIX e até à vintena do século XX. Ao levarmos hoje ao publico ledor destas crónicas sobre as ruas de Braga, e agora que se está a aproximar o primeiro centenário do advento da República Portuguesa, não podemos deixar de assinalar que após a instauração do novo regime, Teófilo Braga, foi o Presidente do primeiro Governo Provisório Republicano e que, mais tarde (1915), exerceu a magistratura suprema da Nação. Teófilo Braga, também entrou na plêiade de intelectuais que em 1865 que tomou parte na diatribe provocada pela carta-posfácio em que António Fernandes Castilho, à poesia de Pinheiro Chagas, “Poema da Mocidade, ao qual Antero de Quental respondeu, “ruidoso acontecimento que deu origem, como ponto de partida para a implantação do realismo em Portugal”, - realismo “atitude prática de quem encara de frente a realidade, evitando que abstrações ou fantasias intervenham na sua conduta”, e que deu em resultado o que essa questão resposta se viesse a intitular como uma atitude de “Bom Senso e Bom Gosto”. Também incluiu o seu nome nas célebres reuniões, organizadas por Antero de Quental, as “Conferências Democráticas do Casino Lisbonense”. Membro correspondente da A. P. L., deixou, entre outras, uma vasta obra literária da qual podemos destacar como as principais, “Folhas Verdes” (1859), “Visão dos Tempos” (1864), “Tempestades Sonoras” (1864). Poesia : “História da Poesia Popular Portuguesa” (1867), “O Cancioneiro Popular” (1867), “O Romanceiro Geral” (1867). “Contos Tradicionais do Povo Português” (1883) : folclore. “História da Literatura Portuguesa” (1870), “História do Teatro Português” (1870/1871), “As Modernas Ideias na Literatura Portuguesa” (1892), história literária. Braga, 19 de Junho de 2008 LUÍS COSTA


publicado por Varziano às 16:50
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Rua Eça de Queiroz
RUA EÇA DE QUEIRÓZ E JARDIM DE SANTA BÁRBARA Com início na rua Dr. Justino Cruz e final na Praça do Município a rua Eça de Queiroz foi aberta no final dos anos quarenta do século findo tendo, na altura recebido, em 27 de Abril de 1950, o nome do então Ministro das Obras Públicas, Engenheiro Frederico Ulrich, em consideração pelo interesse e facilidades concedidas para a conclusão da obra. Decalca esta rua parte da cerca do antigo Paço dos Arcebispos, e para sua abertura teve de se derribar a capela de Santo António da Praça, um pequeno templo que se situava à ilharga do edifício do antigo Paço de Dom José de Bragança. Desmontado peça por peça, este templo tinha então sido destinado a ir ocupar um lugar no Bairro da Misericórdia mas ficou pela intenção e as pedras acabaram por se perder bem como a memória do Santo Taumaturgo que era oficial do exército português. Cabe aqui dizer que Santo António de Lisboa, assentou praça, figurando, como soldado recruta, fez a sua instrução militar e acabou como oficial do exército recebendo a princípio o pré e, depois o ordenado que a patente lhe atribuía. Nos dias do pagamento um mesário ia ao quartel onde lhe era entregue o quantia que lhe era devida. No dia da sua festa, integrava sempre a procissão uma força do então Regimento de Infantaria 8, aquartelado no Pópulo, prestando-lhe as honras militares. Como curiosidade, apontamos que os soldados ao passar defronte Capela, tinham, obrigatoriamente, de saudar o seu superior hierárquico, fazendo a continência. Depois do 25 de Abril foi, em 5 de Junho de 1964,foi substituída a sua primitiva denominação pelo nome do escritor poveiro Eça de Queiroz, conforme reza a acta camarária desse dia : “ a rua Engenheiro Frederico Ulrich passará a denominar-se rua Eça de Queiroz…”. Nasceu Eça de Queiroz, na Póvoa de Varzim, em 25 de Novembro de 1845 e faleceu em Paris em 1900. A questão da naturalidade do escritor poveiro tem dado azo a imensas disputas entre a Póvoa que reivindica, baseada em testemunhos irrefutáveis como a própria declaração da mãe e, como ele mesmo declara, numa disputa jornalística com Pinheiro Chagas: “Você (Pinheiro Chagas), bem sei, acha isto risível. Mas que diabo! Você é um poeta, um orador, um lutador – e eu sou apenas um pobre homem da Póvoa de Varzim.”, e, Vila do Conde que, como único testemunho se baseia no assento de baptismo, efectuado na Igreja Matriz, dias depois do seu nascimento. Ora o facto de Eça ter sido baptizado naquela igreja, já está devidamente esclarecido por vários autores, como, entre outros, por exemplo, o Monsenhor Manuel Amorim in “Separata do Boletim Cultural da Póvoa de Varzim – Vol. XXXII, nos 1 / 2 – 1955 – O nascimento e o Baptismo de Eça de Queiroz”. Eça de Queiroz, formado em Direito na Universidade de Coimbra, tentou a advocacia, tornou-se jornalista e, finalmente, ingressou na via diplomática, tendo servido em Havana, Newcastle, Bristol e Paris, onde veio a falecer. Em Portugal, ocupou o cargo de Administrador do concelho de Leiria, onde escreveu um dos mais conhecidos dos seus romances, “O Crime do Padre Amaro”. Pertenceu ao grupo “Os vencidos da Vida” e foi um dos intervenientes das célebres “Questão Coimbrã” e “Conferências do Casino”. Introdutor do romance realista em Portugal, ninguém o excedeu na plasticidade da linguagem, onde por outro lado a clareza, elegância e musicalidade da sua obra o colocam como um dos principais estilistas do idioma português. Possivelmente a ironia caustica com que retratou a sociedade do seu tempo, esteja na origem do seu obscuro nascimento. Caso raro, e talvez único em todos os tempos, no assento do seu baptismo consta como filho de mãe incógnita. Deixou-nos uma valiosa obra, constituída por livros editados em sua vida, como outros de edição póstuma. É difícil destacar quais os melhores, mas sem dúvida, não podemos esquecer “Os Maias”, “A Cidade e as Serras”( póstuma ), “ A Ilustre Casa de Ramires”, “O Primo Basílio”, isto só para mencionar alguns da sua obra. À esquerda da rua Eça de Queiroz, situa-se o belo jardim de Santa Bárbara, um ex-libris da cidade e um dos mais bonitos recantos da cidade. O nome deste jardim não foi de escolha camarária, da sua Comissão de Toponímia, mas sim ele foi baptizado pelos bracarenses que aproveitando o motivo que se encontra ao centro, um fontanário que tem a encimá-lo a estátua da Santa protectora das populações contra as trovoadas, baptismo logo apoiado pela Toponímia e Câmara. Sobressaí este fontanário de um plano elevado por degraus estrategicamente dividido pelos quatro lados de um patamar que suporta o tanque onde ao centro uma coluna interrompida por uma taça do qual jorra a água e que, por sua vez, é continuada por um tronco realçado por quatro elementos, separados por argolas, sendo que o terceiro tem esculpidos motivos decorativos, servindo este conjunto de suporte à imagem da Santa que deu o nome ao jardim. Este motivo arquitectónico pertenceu ao jardim-cerca do antigo Convento dos Remédios e esteve por largos anos no Parque da Ponte, vindo a embelezar este local quando o jardineiro paisagista de seu nome Cardoso, funcionário camarário, delineou, ao tempo do Presidente Santos da Cunha, o belo recanto de que estamos a tratar, traçando os seus canteiros num conjunto admirável. A Câmara, premiando o seu extraordinário bom gosto em todo o aspecto, homenageou-o colocando uma lápide com o seu nome num lugar destacado do jardim. Hoje essa lápide está escondida, num recanto quase obscuro e, poucas pessoas tem dela conhecimento. Foi retirada do seu primitivo destacado lugar quando, há anos, em Braga, com a presença do então Presidente da República, Mário Soares, se comemorou o 10 de Junho, o dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas, e a Câmara resolveu homenagear o Dr. José Ferreira Salgado, atribuindo o seu nome ao novo largo que fica fronteiro ao jardim de Santa Bárbara e colocando no sítio anteriormente ocupado pela lápide do jardineiro Cardoso, o busto de Ferreira Salgado. Este busto, colocado naquele lugar tem dado lugar a confusões, pois que alguns quase esquecem o nome do político bracarense e, não sabem tampouco que o topónimo do Dr. Ferreira Salgado é o do largo fronteiro ao jardim, separado pela rua Dr. Justino Cruz, onde está colocado um espelho de água com repuxo, largo onde deveria figurar o busto e não no lugar onde o colocaram. Verdadeiro tapete persa de flores naturais, constantemente renovadas, conforme as espécies relacionadas com as estações do ano – amores perfeitos, rosas, cenerárias, camélias, bem-me-queres, etc. - que dão um colorido especial a este belo recanto, um dos mais bonitos, senão um dos mais belos da Bracara Augusta. É de notar que as árvores estão ausentes deste espaço, porque ele foi delineado mais para o encanto da vista, razão de ser constantemente fixado nas objectivas das máquinas dos turistas, do que lugar de lazer e recreio, pela sua exposição durante o dia aos raios solares e, só nas noites cálidas de verão, se pode aproveitar para um pequeno descanso nos poucos bancos de pedra ali existentes. No entanto, tem algumas árvores, mas apenas as que foram colocadas à face da rua Eça de Queiroz, como uma cortina arbórea para não chocar o bonito jardim com as construções modernas da rua, uma vez que todo o conjunto que pertenceu à cerca do antigo Paço Arquiepiscopal, hoje um nexo da Biblioteca Pública, é um verdadeiro museu pétreo ao ar livre, onde se encontra muito da parte histórica da velha Bracara. Assim, num plano inferior ao do jardim, depare-se-nos o Paço Medieval de dom Gonçalo Pereira, que foi Arcebispo de Braga (1625/1358), constituída por uma torre ameada, acrescentado por Dom Fernando Guerra, também Arcebispo (1416/1467) e ainda a obra do mesmo, o Salão Medieval. Na torre, notam-se pedras almofadadas, românicas, aproveitadas de alguma construção desse tempo e pedras sigladas do período medieval. Uns arcos góticos dão realce a este conjunto e foram ali colocados quando ao tempo do director da Biblioteca, Dr. Alberto Feio, cerca dos finais dos anos vinte e princípio de trinta do século ido, foi restaurado o edifício do Paço de Dom José, que meados do século XIX, tinha sido quase destruído por um incêndio. Serviam eles para sustentar o piso do hoje salão do Arquivo. Muitos elementos se encontram no local e que pertenceram a construções demolidas, principalmente durante os séculos dezanove e seguinte, como os anjos e grinaldas da fachada do Convento dos Remédios, brasões de fé e de armas, a Cruz de Dom Diogo de Sousa que deu origem à Irmandade de Santa Cruz, entre outros restos que seria fastidioso enumerar. Mas há ali uma pedra que não podemos deixar de assinalar, pois só conhecemos três exemplares. Trata-se do antigo brasão de Braga. Os dois restantes encontram-se, um, no Parque de São João da Ponte, no portão de entrada do que foi um Jardim Infantil, e que apara ali foi quando destruíram no Campo do Salvador (Mercado Municipal) o antigo mercado do Peixe e que serviu durante anos de quartel aos Bombeiros Municipais e, o outro, está nos claustros do Convento do Pópulo (hoje dependências da Câmara Municipal) e que pertenceu ao portão de entrada do antigo matadouro, nas Carvalheiras. Ainda se pode observar, na parte sul do plano inferior, a traseira do Paço, que dom Rodrigo de Moura Telles (1704/1728) mandou edificar. Braga, 29 de Fevereiro de 2008 LUÍS COSTA


publicado por Varziano às 16:29
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