Domingo, 26 de Outubro de 2008
A arcada da Lapa 2
A arcada da Lapa 2 – continuação Tendo sido demolida em 1768, a pedido dos Oratorianos, a Capela de Santa Ana, na Alameda deste nome, a Irmandade do Senhor dos Passos, ali instituída, mudou para a Lapa e numa das torres do Castelo, levantaram sobre um baluarte uma torre sineira que é a que ainda hoje se vê. Entre os alicerces e a parte do fundo onde assentou a torre, serve hoje de caixa forte à dependência bancária, instalada à ilharga da capela. De arquitectura circular, com projecções rectangulares para a entrada e o altar-mor, a capela tem os janelões norte e sul, na circunferência, encobertos pela construção mais tardia do andar superior dos lados da arcada. A arquitectura desta foi uma nova maneira de construção de templos e que, em Braga, está também representada na Capela de Guadalupe e Igreja do Hospital de São Marcos. Circular era a igreja do Bom Jesus, mandada construir por Dom Rodrigo de Moura Telles. O seu risco é atribuído a André Soares, e se facto foi ele o seu autor, foi quase no final da sua actividade, pois faleceu em Braga, em 26 de Novembro de 1769. Robert C. Smith afirma que há toda a probabilidade de ser um trabalho de Soares. Para isso contribui não só a data do inicio da sua construção mas também e, principalmente, a semelhança, no traço com outras obras deste arquitecto bracarense. De facto vários aspectos nos remetem para essas obras, como por exemplo as altas janelas da fachada que nos lembram as da fachada traseira do edifício camarário que iluminam o patamar e os dois lances de escada de acesso ao Salão Nobre e o frontão, encimado por dois coruchéus flamejantes em cada lado, com o acrotério e ao centro coroado pela cruz arcebispal, elementos que nos aparecem na igreja dos Congregados. Por cima do janelão central da fachada, numa cartela entre as pilastras interiores, estão relevadas as armas de fé do príncipe-arcebispo Dom Gaspar de Bragança. Três arcos, sendo o central mais avantajado dão entrada ao átrio que dá acesso ao pequeno templo. Em dois nichos estão representados, São Pedro e o Papa da Eucaristia. No interior além da imagem de Nossa Senhora da Lapa, no altar-mor, estão outras esculturas de Santos, sendo de destacar uma colocada numa mísula e que se refere ao São Carlos Borromeu, o Santo patrono dos bancários. São Carlos Borromeu, foi o administrador financeiro do Concílio de Trento. Quando se procedeu à construção da capela e para utilizar o espaço para o altar-mor, houve necessidade de cortar a passagem que ligava os dois baluartes, pelo que se algum vestígio ainda existe, estão por detrás do altar principal da capela. Depois de 1761, como se disse ano em que se lançou a pedra fundamental, o aspecto da arcada dessa data, como se pode verificar pela gravura que neste caderno se insere, manteve-se até ao princípio do último cartel do século dezanove, data em que a Câmara de Braga, intimou ou sugeriu aos locatários daquele espaço, construíssem, sobre os arcos, um andar. Por uma fotografia focada no ano em que se comemorava o primeiro centenário do lançamento da primeira pedra para o templo do Bom Jesus – 1884 – vemos que as obras já estão em fase adiantada. A arcada manteve-se durante muitos e dilatados anos, como um lugar de comércio, quase uma feira. Ali foi a Praça do Peixe, até que esta passou para o Campo da Feira, onde chegou a ser, nos nossos dias, o quartel do Bombeiros Municipais de Braga. A afluência das mercadoras do peixe era tão grande que a Câmara viu-se obrigada a lançar uma postura, ordenando que as vendedoras deviam deixar um corredor, que pela medida de agora, devia andar por um metro, para que os compradores tivessem acesso fácil às vendeiras. Chegou a haver também uma postura impondo determinadas disposições para a venda da sardinha galega teria que ser vendida em competição com a da Póvoa. Estas peixeiras costumavam reunir-se, no final das tardes, nos degraus do cruzeiro do Eirado (que se vê na gravura da arcada antes da intervenção de Dom Rodrigo) e ali em alegre cavaqueira, à qual por certo não faltaria a má língua, o que levou à intervenção do arcebispo para acabar com o escândalo, derrubando-o e tendo sido levado para o cemitério de Monte de Arcos, onde veio a ser aproveitado e em parte modificado para ser colocado no talhão dos Combatentes da Primeira Grande Guerra. Nota-se nesta gravura a seguir à casa redonda, e em parte encoberto pelo cruzeiro, um edifício. Tratava-se da Cadeia da Relação, um estabelecimento destinado a prisão de delinquentes, mandado construir por Dom Rodrigo, sob risco do seu arquitecto Engenheiro Manuel Pinto Vila-lobos (o mesmo arquitecto do Bom Jesus), mais tarde demolido e junto surgiu, em 1856, um depósito de água das Sete Fontes, abastecido pela caixa de águas, do Eirado e fontanário de duas bicas que ainda em meados da primeira metade do século XX, fornecia água. Depôs da transferência do mercado do Peixe, para o largo da Feira, e consequente abandono da parte comercial que se praticava na arcada, limpo o terreno, surgiram os cafés na zona. Temos conhecimento de que pelo menos, à volta da arcada, e isto já em 1906, existiam por ali seis cafés. Necessariamente não era só na arcada, mas por todo o quarteirão. Chegou aos nossos dias um dos mais emblemáticos, o Café Viana. O falecido amigo Dr. Victor Sá, encontrou referências a este estabelecimento pelos princípios dos anos de 1870. Sabe-se pelas actas camarárias que Viana, um dos locatários do espaço, foi um dos aconselhados pela Câmara a acrescentar o andar cimeiro. Talvez tenha sido por altura dos princípios do século XX que o concessionário do café pediu autorização para a abertura de uma porta na muralha e ocupação de um espaço de terreno na antiga cerca do castelo o que foi concedido mediante o pagamento de um foro, ou uma contribuição à Câmara, num contrato renovado ao fim de determinados anos. Um jornal da década de 70 do ano de 1870, inclui um anúncio informando os clientes do Café Viana que devido a várias conjecturas, a gerência via-se obrigada e elevar o preço da chávena de café, num ou dois reis, ao mesmo tempo que anunciava ter recebido uma sorte de bolachas inglesas que estavam à venda por um preço económico. Por aqui passaram várias celebridades da cultura portuguesa como Camilo Castello Branco que, numa carta dirigida ao seu amigo Viana lhe pedia alugasse um quarto no Hotel Franqueira, voltado para o Campo de Santa Ana, mas que tivesse duas camas – uma de ferro e outra de pau – porque às vezes tinha manias de mulher e tinha de mudar de leito. Este café foi um dos estabelecimentos bracarenses que no final da Primeira Grande Guerra, devido à falta de cobre para trocos miúdos, imprimiu cédulas com o valor de fiduciário que corriam como dinheiro. Era ao mesmo tempo café-concerto com orquestra e bailarinas, de resto não o único em Braga antes da regulamentação do jogo de fortuna e azar, grupos de variedades que eram aguentados pelas receitas do jogo. Perdurou e perdura este café até hoje, e lá está, firme como uma rocha, mas sem orquestra ou bailarinas espanholas. Atravessou momentos críticos durante o período do Estado Novo, por ser considerado um café do “reviralho”. De facto era um local onde se encontravam muitos daqueles que se opunham ao regime de então. Mas a sua principal clientela, pelo menos entre os anos de 40 a 74, eram negociantes, empresários de obras e muitos e muitos outros que não alinhavam com a chamada União Nacional. Hoje, completamente remodelado, serve uma clientela diversificada tanto nas suas instalações interiores, como na explanada que o defronta. Não podemos esquecer o Café Astória que era e creio que ainda é o local de encontro da malta estudantil. Outros desapareceram como o Peninsular, misto de café e restaurante, agora transformado numa agência bancária. Um que também levou sumisso e que nenhum de nós deve se lembrar, foi o Café Faria. Esta é uma pequena história daquilo que é considerada como A SALA DE VISITAS DA CIDADE DE BRAGA Braga, 26 de Outubro de 2008 LUÍS COSTA www: bragamonumental.blogs.sapo.pt www: bragamonumental2.blogs.sapo.pt www: varziano.blogs.sapo.pt email: luisdiasdacosta@clix.pt


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A arcada da Lapa
Luís Costa A A R C A D A D A L A P A A ALFANDEGA, HOSPÍCIO para recolher os negociantes e BALUARTES ( Caramanchões ou Casas Redondas) Criados por Dom Diogo de Sousa ARCADA, mandada fazer e cobrir por Dom Rodrigo de Moura Telles CAPELA DA LAPA, mandada construir por Dom Gaspar de Bragança ANDAR SUPERIOR em construído em 1 8 7 4 UBATI – Universidade Bracarense do Autodidacta e da Terceira Idade 2008 A A R C A D A D A L A P A Início do século XVI. Braga vive num aglomerado de ruelas, insalubres e apertadas, verdadeira cidade medieval, cercada por um cintura de muralhas que a não deixava respirar livremente. Aqui ainda não tinham chegado os ventos da mudança que se estava a moldar por quase toda a Europa. O Renascimento ia surgindo pelas várias capitais europeias. É neste contexto que chega à cidade dos arcebispos, a velha Bracara Augusta, um homem, HOMEM com H grande, imbuído de um espírito renovador que tinha recebido nas suas andanças pelos principais centros civilizados da Europa, Dom Diogo de Sousa (1505/1532). E assim principia por renovar a velha urbe. Dedica parte da sua acção ao abastecimento de água, ainda muito deficiente. Traça, dentro e fora da cintura de muralhas, largos, espaços, novas ruas, abrindo umas, alargando outras. Com o desenvolver da cidade, o aumento de população é natural e o comércio principia a desenvolver-se. Braga é um lugar apetecível e os lavradores, tendeiros e almocreves ocorrem aos mercados então espalhados pela cidade. Dom Diogo, projectada a rua Nova, manda abrir na muralha uma nova porta na cidade, no seu seguimento, a poente, e logo cria ali ao seu lado uma praça para venda de peixe – mais tarde conhecida pela Praça da Hortaliça. Junto à Sé, faz a Praça do Pão, nos baixos da nova Câmara que mandou construir. Como complemento destas iniciativas, Dom Diogo de Sousa, estabeleceu junto à porta do Souto e à porta nova de Sousa (a hoje Porta Nova), Alfândegas, isto é, diz Monsenhor Ferreira nos “Fastos”, “hospícios para recolher os negociantes (almocreves), que de fora vinham abastecer a cidade de géneros e mercadorias”, obra meritória e previdente, dado que então a cidade não tinha albergues nem estalagens para os instalar. De início os caramanchões teriam a finalidade de ser um complemento à defesa do castelo, pois nada mais eram que baluartes, por certo ameados, e ligados entre si por um galeria abobadada ogival, colocada junto à parte exterior da muralha de defesa do castelo. Os baluartes, caramanchões ou se quiserem casas redondas, foram construídos, um no ângulo da porta do Souto (hoje Largo Barão São Martinho) e o outro no ângulo do largo do Eirado (largo São Francisco), com a Alameda de Santa Ana. Ainda há anos se podia ver, na cafetaria do Café Viana, parte dessa galeria e ainda hoje é visível nos sanitários da agência bancária ao lado da igreja da Lapa. Com o desenvolvimento das tácticas de guerra, tornaram-se obsoletos os baluartes pelo que a outro fim foram destinados. Sabemos que durante a administração do arcebispo Dom Gaspar de Bragança (1758/1789), estas casas eram administradas por um alfandegário, de nomeação arcebispal, que as tinha emprazado com prejuízo público, como também autorizou a Câmara a emprazar os caramanchões, casas redondas em que se tinham transformado os baluartes, e que reformadas mais tarde por Dom Agostinho de Jesus, pertenciam à Mitra, e eram destinadas a uso próprio, para as suas rendas de portagem. A antiga casa de portagem, segundo Senna Freitas, tomo II, pag. 294, estava situada no Caramanchão de Cima, isto é onde se acha uma agência bancária, no ângulo com o Largo dos Terceiros. Nela existia uma pedra lavrada, inserida na parede exterior, onde se achava inscrita a legenda que a seguir vamos reproduzir : “Casa da Portage : nesta assistirá o rendeiro dês as 8 ½ horas da manhan até às oito da tarde no tempo de inverno : e no beram até às nove da noite, com pena não poder vexar aos que deverem Anno de 1715 annos” Decorridos cerca de duzentos anos, já sob a administração arcebispal de Dom Rodrigo de Moura Telles (1704/1728), porque no local da Alfândega, se principiou a estabelecer um mercado, com os mercadorias e mercadores sujeitos às inclemências do tempo, resolveu dar a este sítio um aspecto mais condigno e mais consentâneo para o que estava a ser utilizado. Assim, cerca de 1715, mais ou menos, mandou construir uma arcaria entre as casas redondas e mandou-as telhar. Nessa altura a escultura da figura de Braga, datada de 1715, hoje sobre o Arco da Porta Nova, foi colocado sobre o meio da arcaria. Ponto reunião de muita gente, foi aproveitado para ali, em 1755, um Padre Missionário Apostólico brasileiro, Ângelo de Siqueira, ali iniciar a pregação de uma Santa Missão. Principiou junto a uma estampa de Nossa Senhora da Lapa, que numa noite, diz o já citado Monsenhor Ferreira, nos “Fastos”, grudaram ou pregaram na parede, no sítio dos Alpendres. Isto atraiu grande número de devotos, que depois principiou por ser o lugar central porque as Missões do Padre Siqueira, mais incitaram à devoção à Senhora da Lapa. Dom frei Aleixo de Miranda Henriques mandou fazer uma imagem de vulto que fez conduzir em procissão para São Domingos da Tamanca. No entanto a devoção estiolou, talvez por não estar tão acessível - a Tamanca ficava distante do ponto onde tinha principiado a devoção. Os Padres do Convento do Oratório, dada a crescente devoção e porque a estampa colocada na Alfândega do Souto tinha sido mandada arrancar, colocaram uma imagem na sua igreja. Mas apesar de ser um local central, nos Congregados, a devoção não mereceu a atenção do povo. Sorrateiramente os devotos da Alfândega, colocaram uma nova estampa no sítio da primeira, e logo principiaram ali rezar-se terços, ladainhas e orações e, com as esmolas e a anuência do arcebispo Dom Gaspar, dotada regularmente, conseguiram fazer a actual capela da Lapa. A primeira pedra, a pedra fundamental, foi lançada no dia 9 de Setembro de 1761 pelo reitor do Seminário António Barbosa Goes, sob os auspícios do Príncipe Arcebispo. A obra durou três anos e, no dia 7 de Setembro de 1764, foi a capela benzida e, no dia seguinte, foi ali celebrada a primeira Missa. . . . / . . .


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Segunda-feira, 20 de Outubro de 2008
A capela e recolhimento das Convertidas 2
Convertidas 2 – continuação Arrolamento da Capela Se quanto aos bens arrolados no Recolhimento se pode dizer que foram de escassos valores exceptuando, obviamente, o edifício, os valores encontrados na capela mereceram uma atenção especial. Fala-nos de dois altares, sendo um de talha de valor. Por certo a Comissão referiu-se ao altar-mor, obra de grande valia, no estilo predominante da época, barroco nacional e bem assim ao altar lateral, onde pontificava uma imagem de Nossa Senhora das Graças, ao lado de um púlpito de “magnifica talha”. Na tribuna do altar-mor, sete imagens se destacavam, e creio que ainda hoje lá se encontram – Santo Amaro, Senhora das Boas Novas, Santa Maria Madalena, S. Filipe, São Domingos e, duas imagens que por certo vieram da antiga e demolida capela, São Gonçalo e São Bartolomeu. Refere ainda mais duas imagens, mas mais pequenas, dentro de um oratório com a invocação de Santo António e São Gonçalo. Um quadro do Sagrado Coração de Jesus, faz parte do inventário, bem como lâmpadas e tocheiros. Completam ainda o arrolamento desta parte da capela, missais, sacras, vasos com flores artificiais, jarras e outros vários objectos relacionados com o culto. É de destacar, no soco da elevação do espaço do altar-mor em relação ao pavimento do corpo da capela, dois painéis de azulejo, um em cada lado, do tipo de figura avulsa, de influência holandesa, únicos que se conhecem existir em templos de Braga. O tecto, tanto do altar-mor, que apresenta uma notável pintura, sendo ainda de notar, no corpo da capela uma série de caixotões também estão decorados com extraordinários pinturas a precisarem de um restauro condigno. A tela da tribuna também é de grande valor. Como se tratava de uma instituição de clausura Capela é limitada ao fundo por uma grade, com apenas uma pequena abertura, por onde as utentes recebiam a comunhão, o chamado coro de baixo, com bancos corridos. Sobre este espaço, encontra-se o coro de cima, no qual se destacava um relógio, grandes quadros de certo merecimento, diversos móveis e algumas imagens. Como vemos pouca era a riqueza deste recolhimento e nem admira, pois tratava-se de uma instituição que, praticamente, vivia de esmolas. No entanto alguma coisa de valor desapareceu e isso a avaliar pela declaração que a regente que estava à frente do Recolhimento fez, quando do inventário para o arrolamento, ao Governo Civil e Comandante da Polícia : Pela“… actual regente Julieta Epi da Rocha, foi declarado que não tinha inventário do existente neste recolhimento porque grande número de objectos tinham sido retirados pela regente antecessora Amália Cândida de Jesus que fugiu sem prestar contas. Entre os objectos retirados há que mencionar uma custódia de prata dourada, um turibulo e naveta do mesmo metal, três sacras de prata dourada, três pares de brincos de ouro de Nossa Senhora, e outro objectos que não pode especificar”. Como vemos, a propósito do esbulho praticado pelo Governo, até os particulares se aproveitavam e isto, por certo, não foi só após o decreto republicano. Já nos tempos do “mata frades”, Joaquim António de Aguiar, em 1834, o mesmo se deu com o rico espólio de muitos conventos e casas conventuais. A F A C H A D A A fachada principal está voltada para a Avenida Central. É constituída por dois elementos. O primeiro, que faz gaveto com a rua de São Gonçalo, verdadeiramente a entrada para o recolhimento, apresenta-nos, a porta de acesso, a qual é antecipada por dois ou três degraus, porta simples que é sobrepujada por uma espécie de balcão, ou cimalha, sobre o qual se vê um frontal liso, almofadado, a toda a largura do balcão e rematada, em cada lado, por uma voluta. Encaixada, uma janela gradeada, serve para iluminar uma parte do andar superior ao longo do qual nos aparece outra janela gradeada e muito simples, também sem qualquer adorno, exceptuando um singelo friso que a encima e na parte inferior, ao lado, ao nível da parte superior das entrada, uma festa longitudinal, tem em cima um frontão no género de mitra. Na primeira, um frontão quebrado ou cortado, encerra o emblema do Recolhimento de Santa Maria Madalena ( Convertidas ), no qual se vê, a imagem da Santa em atitude de penitente e na sua bordadura e legenda : DCLINET AMALO ET FACIAT BONUM ET SEQUATUREAM. Uma platibanda corre ao longo deste corpo e da capela anexa. Na parte do edifício do recolhimento esta platibanda é encimada por um andar superior no qual se inserem, quatro rasgadas janelas que tudo leva a crer que é um aumento feito posteriormente. Sobre os cunhais que delimitam este andar, dois acrotérios, um em cada, tem por cima um elemento flamejante. Passemos agora para a parte da fachada de entrada para a capela. Como na do recolhimento, o acesso faz-se depois de subidos três degraus. Nada tem, também no estilo, esta porta. Como a da instituição é encimada por um balcão ou cimalha igual com janela cimeira, também gradeada. Sobre ela, na mesma como a outra porta, tem um frontão, só que este encerra as armas de fé do instituidor, Dom Rodrigo de Moura Telles. Mais ao lado uma janela como a da parte da entrada do recolhimento, diferindo apenas pelo ter sido o gradeado substituído por um vitral. Era normal, no dias mais quentes, tardes de verão, primavera ou Outono, verem-se algumas das recolhidas usufruírem as sombras das tílias da avenida, vendo passar as horas ou entretendo-se na conversa. Ficou muito conhecida uma simpática velhinha que aproveitando as réstias de sol ia, com a sua roca, fiando maçarocas de linho. Braga, 20 de Outubro de 2008 LUÍS COSTA www: bragamonumental.blogs.sapo.pt www: bragamonumental2.blogs,sapo.pt www: varziano.blogs.sapo.pt email: luisdiasdacosta@clix.pt


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Domingo, 19 de Outubro de 2008
A capela e recolhimento das Convertidas
Luís Costa CAPELA E RECOLHIMENTO DAS CONVERTIDAS (Capela de São Gonçalo) Reedificado pelo Arcebispo Dom Rodrigo de Moura Telles Inaugurado em 25 de Abril de 1722 Tomando nome de Recolhimento de Santa Maria Madalena (Convertidas) Aproveitamento da capela de São Bartolomeu Mandada edificar em 1500 pelo Arcebispo Dom Jorge da Costa UBATI – Universidade Bracarense do Autodidacta e da Terceira Idade 2008 CAPELA E RECOLHIMENTO DAS CONVERTIDAS O arcebispo de Braga, Dom Jorge da Costa (1486/1501), fundou à hoje esquina da rua de São Gonçalo, com entrada pela Avenida Central (Alameda de Santa Ana), sob a invocação de São Bartolomeu, uma ermida e sobre a porta colocou o seu brasão de fé com estes dizeres: “O Primaz das Hespanhas D. Jorge da Costa, Arcebispo e Senhor de Braga, mandou fazer esta igreja no ano de 1500”. No entanto parece que o arcebispo teve como co-fundador Tomé da Corda, que veio para Braga em 1448, na companhia do arcebispo Dom Jorge, que onde viveu no Campo de Santa Ana, e que foi escudeiro-fidalgo (alvará de 26 de Julho de 1532), tabelião em Braga, por desistência de Álvaro Ribeiro. Foi vereador da Câmara, vários anos, entre 1511 e 1522, escrivão secular em 1530. E esta suposição baseia-se no facto de ao lado da pedra de armas de fé do arcebispo, a roda de navalhas que martirizou Santa Catarina, ter estado colocada a pedra de armas deste escudeiro-fidalgo – uma corda enrolada em voluta. Demolida a capela de São Bartolomeu, em 1720, para dar lugar ao Recolhimento das Convertidas e Capela de São Gonçalo, foram estas pedras de armas entregues a Duarte Mendes de Vasconcelos, senhor da Casa das Carvalheiras, 5º neto de Tomé da Corda e, segundo a tradição, 6º neto de Dom Jorge da Costa, o Cardeal de Alpedrinha que as mandou colocar encimando a porta do quintal da referida Casa das Carvalheiras, na antiga rua Verde (actual parte superior da rua Dom Frei Caetano Brandão), as quais foram transferidas, em 1946, para a frontaria da mesma casa, no Largo das Carvalheiras, então pertencente ao Dr. Jerónimo da Cunha Pimentel. Hoje é propriedade de uma cooperativa. O R E C O L H I M E N T O Para fundar o recolhimento o arcebispo Dom Rodrigo de Moura Telles, em 1720, comprou umas casas contíguas à antiga capela de São Gonçalo, diz Monsenhor Ferreira nos “Fastos”, as quais “mandou demolir juntamente com a capela, e neste sítio fundou o Recolhimento ou Conservatório de Santa Maria Madalena e São Gonçalo, para dar abrigo às “mulheres convertidas a Deus por livre vontade, arrependidas do coração e de seus erros”. Passaram então as mulheres que para ali foram viver a ser conhecidas por Convertidas, porque da vida licenciosa se convertiam a melhor vida. Vestiam o hábito de São Francisco e o arcebispo “consignou-lhes a dotação nas rendas da Mesa Arcebispal destinadas aos pobres, a quantia de 224$340 reis anuais em dinheiro, e nas rendas do Celeiro do Micho”, tendo tudo isto sido confirmado, em 14 de Agosto de 1720, por Breve do Papa Clemente XI. Toda a obra correu por conta do arcebispo, durante os dois anos que ela durou, sendo o Recolhimento inaugurado em 25 de Abril de 1722. Tratou de estabelecer estatutos bem ordenados, nos quais era determinado que sempre as Recolhidas, em número de doze, estivessem ocupadas no Coro em exercícios de piedade e na casa de lavor, trabalhando, recolhidas que recebiam, cada uma, diariamente 20 reis e meio alqueire de pão por semana. A importância dispendida pelo arcebispo foi sete mil cruzados e ainda lhes deixou em testamento 600$000 reis. Para maior aumento do espaço para a construção, o arcebispo em 8 de Julho de 1720, expediu um decreto à Câmara Municipal e por ele concedeu licença para tomar o terreno público necessário, afim de alinhar o edifício, de acordo com a planta feita. Também acordou com o Conde Carcavelos em ceder-lhe três penas de água, certamente da que corria desde a caixa de água do adro da igreja de SãoVicente, pela compensação para alargamento da rua que vinha do Campo do Novo, obra de Dom Rodrigo, da ocupação de uma faixa de terreno junto à sua casa, no gaveto da hoje rua de São Gonçalo, com a Alameda de Santa Ana. Este prédio está hoje ocupado pelo Externato Paulo VI, nada tendo a ver com o nosso conhecido Palacete de Carcavelos. A porta de entrada para o Recolhimento fazia-se pela Alameda de Santa Ana (e ainda se faz apesar de estar de vago e encerrado por ordem do Governo Civil de Braga). Depois de ultrapassado uns degraus, depara-se com a indispensável roda, que servia para ali serem depositados os donativos e bens com que a população tentava ajudar as recolhidas. Seria também alguma vez lugar onde cairia um exposto ? Qual seria a surpresa da rodeira, depois de ouvir a sineta de aviso que algo se encontrava na roda, ao deparar dentro dela uma criança ? Depois do decreto da extinção das ordens religiosas, deixaram as convertidas de usar o hábito de São Francisco e mesmo, mais tarde, o Recolhimento, como todos os seus bens, passaram para a posse do Estado pelo decreto de Abril de 1911. A capela e recolhimento, estavam sob a jurisdição da paróquia de São Vitor, por estar dentro do espaço desta freguesia, que é assinalado desde uma linha recta que partindo do gaveto da rua do Sardoal com a rua de Guadalupe, vai entroncar no cunhal do recolhimento e segue, pelo meio da Avenida Central, em direcção à Senhora-a-Branca. Com tal fez parte, quando da lei de separação, do arrolamento feito a favor do Estado de todos os bens da paróquia, como de resto a igreja de São Vicente, então ainda integrada na freguesia. Curiosamente não consta deste arrolamento a Capela da Senhora-a-Branca. Instituição pobre, vivendo praticamente de donativos e esmolas, não é este arrolamento na parte, podemos dizer conventual, rico. A maior valia encontra-se na descrição do prédio, com pátio, jardim ou quintão com algumas árvores de fruto. Tapetes, reposteiros e um outro armário, tudo velho, meia dúzia de cadeiras, mesas, bancos, jarras e ramos naturais (!...) caíram na alçada do Estado. Apenas há uma ou duas referências a alguma coisa de valor, como por exemplo na verba nº 25 :Um santuário de valor histórico e artístico contendo um Cristo e três imagens , tendo uma destas a cabeça partida. . . . / . . .


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Sexta-feira, 10 de Outubro de 2008
A lenda dos nomes das terras
LENDA DOS NOMES DAS TERRAS E RIOS “…e chamou Deus ao elemento árido Terra e ao agregado das águas Mares” (Génesis – 10) …e depois viu que isto era bom e pensou em percorrer a terra e dar-lhes nomes. Acompanhado do querubim escriba, pôs-se a caminho. Atravessou continentes e chegou a este canto onde principiou a sua tarefa. Mencionava um nome e logo o escriba o assentava. Os passos seguiam-se e os nomes, surgiam ao gosto de Deus e o querubim ia assentando. Os relevos que eram parte integrante para a escolha e, assim, foram escolhidos os das localidades por onde iam passando. A azafama era grande, e o cansaço se fazia sentir nos caminhantes, mas teria que se aprontar e o esforço valia a pena – era bom ! Chegados a uma monte, onde a vista se alongava, o escriba queixou-se – Meu Deus, sinto uma grande dor na cabeça ! Que nome para esta terra ? Deus, preocupado com a dor do querubim, disse-lhe : - É dor de ouvidos ?! - “ÓBIDOS”, senhor ? e assentou “ Óbidos”. E caminhada continuava. Chegados a um ponto, Deus exclamou : - Daqui via todos os que criarei ! Sem mais, lá ficou o assento VIATODOS ! Passos andados, chegaram a um rio, que corria por entre gargantas cavadas. Qual o escolhido ? E Senhor disse, ele segue por lugar cavado e anjo escreveu Cávado. Já um pouco à frente, o escriba perguntou : - A este rio que nome se dará ? O senhor admirado respondeu : - Outro, homem ? o anjo escreveu “HOMEM”. Continuando na sua tarefa, o Senhor chegou perto do mar e, cansado descansou e adormeceu. Ao acordar disse ao querubim : -Em sonhos vi Ana! E logo ele assentou “VIANA”. E a missão ia-se cumprindo, os nome iam sendo assentes pelo escriba. -Qual Escolheis ? Senhor estou tão cansado ! -Não desfaleças, vai andando que estamos, por hoje a acabar. Depois descansarás. Caminha sempre! E o escriba, zás, assentou CAMINHA. Deixando o estuário do rio, passaram a outros lugares, Deparou-se-lhes um monte. Subindo-o com esforço, regalaram-se com o horizonte que dali se desfrutava. Num socalco descansaram e a pergunta sacramental : - Senhor, que nome dais ? E a resposta foi : - Dá-lhe lá um dos que já demos a outros . E anjo assentou “LAUNDOS”. Cansados pela dia tão afadigado o Senhor resolveu descansar por aquele dia e deixar para o seguinte a continuação da tarefa. E o querubim para acabar, pergunta : - E Senhor, por hoje o que faremos mais ? - Por hoje paramos, e amanhã recomeçaremos . E o escriba anotou “PARAMOS”. E assim terminou o dia. Braga, 7 de Agosto de 2008 LUÍS COSTA


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A igreja e convento do Pópulo 3
A igreja e convento do Pópulo 3 –continuação Desde o altar-mor, onde se projectam quatro colunas, estriadas no sopé em um terço e de seguida lisas até ao encontro de capiteis compósitos, que servem de apoio ao frontão barroco que encima a tribuna, a arte do século XVIII, está nesta igreja bem patente. Notável o retábulo da capela de Santa Apolónia, um apoteose de decoração inteiramente barroca nacional, com as suas colunas decoradas com concheados, ramos, folhas, e outros motivos ; o trabalho decorativo, ró-có-có da urna de Santa Susana, debaixo do altar do Senhor dos Passos; o altar de Santa Mónica, com as suas oito colunas torças, salomónicas, também barroco nacional ; o de Nossa Senhora da Conceição onde, como dissemos já, Marceliano de Araújo impôs a sua arte como nos pormenores do de Nossa Senhora das Dores. Todo o conjunto desta imponente igreja está impregnado, na decoração da arte do século XVIII, desde a talha aos azulejos. Vários foram os artistas que nela intervieram. Podemos anotar alguns deles – Agostinho Marques, o ensamblador Cristóvão Rodrigues, o latoeiro Custódio de Carvalho, o entalhador Alvarenga Peixoto, não esquecendo, possivelmente o maior de todos, Marceliano de Araújo., e o pintor João Lopes, a quem se deve o painel da tribuna de Igreja da Misericórdia. No entanto, como há altares que foram feitos depois da tomada de posse da igreja e convento pelo Estado, alguns são mais recentes e obedecem a novos estilos. Devemos acrescentar que, nesse período, houve uma grande dose de sorte para o templo – poderia ter sido consumido por voraz incêndio, pois foi armazém de palha, durante os primeiros tempos da ocupação militar. Os azulejos apenas temos a certeza do autor da capela de Santa Apolónia – António de Oliveira Bernardes. Quanto aos restantes, até hoje, ainda não puderam ser atribuídos. Um especialista que há anos ali esteve a proceder ao seu restauro, confiou-nos que eles não poderiam ser atribuídos a Bernardes, pois a sua concepção era diferente. Ele, como especialista, não tinha dúvidas. A FACHADA DA IGREJA A actual fachada com duas torres, é composta pelas ordens arquitectónicas Toscana e Jónica, diz Albano Belino, em “Archeologia Christã” e “levantada a seis metros de distância da primitiva, no ano de 1780, empregando-se na sua construção a pedra que sobrou do aumento seminário ( Conciliar de São Pedro, no Campo da Vinha) … e do derrube da torre de Santo António ( que ficava junto ao Seminário). É um risco do Engenheiro bracarense, Carlos Amarante, num estilo neo-clássico, a jeito da fachada da Igreja do Hospital de São Marcos, também de sua autoria. De facto entre elas há algumas semelhanças, especialmente nos quatro janelões, ornados de rendilhados, como as de São Marcos. Esta fachada veio alinhar a igreja pela frontaria do Convento. Destacam-se no seu conjunto, além dos janelões citados, a entrada principal, sobrepujada por um arco peraltado, onde se nota à volta uma decoração floriada e ao centro uma concha. Voltada a nascente, esta porta está ladeada por duas colunas lisas cilíndricas assentes em base ática, num suporte quadrangular, encimadas por capitéis, sustentando a arquitrave decorada. Em cima desta arquitrave, um varandim com balaustrada, abre para um grande janelão em arco que ilumina a parte que foi acrescentada em 1780, e dá para a antiga entrada da igreja, feita ainda hoje, por uma grande porta. Ladeiam também o janelão, duas colunas cilíndricas, nos cimos das quais, se vêem também capitéis um pouco mais pequenos dos que da entrada principal. Junto de cada coluna uma espécie de contraforte, estão a aguentar, com as colunas, a arquitrave deste janelão em arco. A cornija corre ao longo de toda a fachada, que tem a encimá-la, ao centro, num frontão triangular uma cartela com grinaldas, tem ao centro as armas de fé da simbologia agostiniana. Duas jarrões flamejantes, um em cada lado, estão colocados nos vértices inferiores do frontão e sobre os contrafortes que desde a soleira vão até á cornija. O frontão é encimado, num acrotério onde está a cruz arcebispal. A fachada é rematada por duas bem proporcionadas torres, nas quais se destacam as sineiras rasgadas onde, na do sul, se vê o sino grande, enquanto que na do norte se nota um bem mais pequeno e que devem fazer parte do carrilhão. Dois mostradores redondos deveriam servir para a colocação de relógios, mas que nunca lá foram postos. As cúpulas das torres apesar destas serem do estilo neo-clássico, apresentam ressaibos de barroquismo, com o seu desenho de jeito de mitra tão usado nas obras de Soares. Em cada uma, nos quatro cantos, urnas flamejantes enquadram o conjunto, perfurado por um óculo redondo. A parede lateral sul, a única que é visível do antigo largo o Pópulo, hoje Conselheiro Torres e Almeida, apresenta cinco contrafortes, simulando arcos botantes invertidos, e entre eles janelas de iluminação do interior do templo. Aqui se vê ainda uma parte saliente, que é o telhado da nave, dos altares laterais, com janelões em meia esfera. Um porta é a entrada lateral, que ficaria fronteira à antiga passagem da entrada do convento para a igreja, e na qual está o hoje altar do Senhor da Agonia. De notar a imagem de Nossa Senhora com o Menino ao colo e, como curiosidade, uma sandália, suspensa pela correia. Toda esta vista nos mostra a igreja da fundação, ao fundo da qual apresenta a primitiva torre traseira, sem cúpula que foi destruída por um raio nem sinos. Está por cima da antiga sacristia, como era habitual. Não se pode esquecer a actual sacristia que, um trabalho de grade valor de talha dourada, se vê o “Santuário das relíquias”, a par de outros objectos sagrados. O C O N V E N T O Juntamente com a igreja, o arcebispo, mandou fazer o convento. Extenso edifício, com 5814 metros quadrados, foi adaptado a quartel militar ( de princípio como local de boleto, para militares destacados em Braga ), depois do decreto de 1834 que pôs fins às ordens religiosas em Portugal e, mais tarde por decisão da rainha Dona Maria II, em 27 de Fevereiro de 1841, como séde do Regimento de Infantaria 8, prémio pela sua acção durante as lutas liberais e até nas campanhas contra as tropas napoleónicas. O 8 de Infantaria havia sido aboletado em Braga, tendo saído de Estremoz, por levantamento de rancho. A sua fachada, ao longo da parte poente do Campo da Vinha (Campo Conde Agrolongo), está divida em duas partes, parte sul e parte norte, separadas por uma tribuna saliente, assente em colunas, varanda da qual, em 1936, na primeira comemoração da chamada Revolução Nacional do 28 de Maio de 1926, Salazar, deu a conhecer o célebre Decálogo, já que foi desde este aquartelamento que o então General Gomes da Costa, lançou a revolução. Aqui se encontra a grande portada, protegida por uma alpendrada varanda entre colunas, única entrada para o edifício, que dá para o átrio onde ao lado da porta de acesso aos dois lances de escada para a parte superior, se encontram em dois nichos as esculturas de Santo Agostinho e de São Tomás de Vila Nova. Nas partes laterais deste átrio, dão acesso a divisões. Deslocando-nos pela porta de entrada para aparte superior, duas escadas uma de cada lado, sobre um portal, levam-nos a um patamar. Dos lambris destas desapareceram, misteriosamente, os azulejos que os adornavam. No patamar, azulejos de cabeceira, do século XVIII, com motivos ligados á Ordem Agustiniana, são iluminados por um grande lanternim. Deste patamar dois lanços de escada levam à parte traseira do corpo principal em coincidência com os que vem do átrio. Nos lambris desta parte, ainda se conservam quase intactos os azulejos. Uma escada nobre, com arranques em pedra, dirige-se ao patamar e andar superior. Alguns azulejos foram arrancados e outros desfigurados, chegando até cúmulo de substituírem, por imitações pintadas, em gesso. Este patamar era a entrada para a sala do capítulo, com pavimento em madeira exótica, que chegaram a substituir por alcatifa, tempos depois arrancada ! ! ! … No seu bonito claustro, estila renascença, encontram-se vários restos de elementos arquitectónicos antigos recolhidos em várias escavações e construções efectuadas na cidade. Entre eles está um marco recolhido na rua Santa Margarida que proibia, em 1747, qualquer escavação ou poço que prejudicasse o abastecimento de água a Braga e, um raro exemplar de um primitivo Brasão de Braga, recolhido na fachada do antigo matadouro. Na antiga cerca (no denominada Campo da Feira, e hoje urbanizado onde se encontra o quartel dos Bombeiros Municipais, rua Zeca Afonso e outras), existiam sete capelinhas, ligadas por uma escadaria de pedra, nas quais se representava uma VIA SACRA. Tendo a cerca sido vendida a particulares, em resultado da extinção das ordens religiosas, esta Via Sacra, acabou por abandonada e perdida. Das imagens salvou-se uma cabeça de Cristo, que se encontra à guarda do Arquivo do Município. Hoje, encontram-se no edifício do Convento muitas das repartições da Câmara Municipal de Braga, depois de custosa e difícil troca com o Ministério da Guerra. Braga, lo de Outubro de 2008 LUÍS COSTA www: bragamonumental.blogs.sapo.pt www: bragamonumental2.blogs.sapo.pt www: varziano.blogs.sapo.pt email: luisdiasdacosta@clix.pt


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Sábado, 4 de Outubro de 2008
A igreja e convento do Pópulo 2
Pópulo - continuação - 2 A CAPELA DE SANTA APOLÓNIA Continuando e prosseguindo pela direita encontramos a capela de Santa Apolónia, virgem romana martirizada em Alexandria, em 249, muito venerada em Lisboa (recordemos a estação ferroviária de Santa Apolónia), devoção que os Frades Gracianos (Eremitas de Santo Agostinho do Convento da Graça) que vieram de Lisboa para a fundação do Pópulo, trouxeram esta para a cidade de Braga (esta vinda dos gracianos, deu a razão de por vezes serem chamados “Frades Gracianos”). A capela está forrada, como as restantes de azulejos alusivos ao martírio desta Santa, com inscrições latinas que traduzem o modo com que Apolónia foi martirizada. Num dos painéis, o lado esquerdo, tem o nome do autor da azulejaria – António de Oliveira Bernardes (Antonius Aboliva, Inventor). Hoje esta capela foi dedicada a Santo António, oficial do Exército Português e confraria que veio para o Pópulo quando da demolição, cerca de 1950, do seu pequeno templo, na Praça do Município (antigo Campo de Touros), para dar lugar à rua Eça de Queiroz e arranjo do Jardim de Santa Bárbara. Em edículas, ao lado de um dos Santos mais populares do Flos Sanctorum vemos São Bento, São Lourenço e ao centro, por baixo do trono de Santo António, a imagem daquela que deu o primitivo nome à capela. Segue-se, finalmente deste lado, a capela de S A N T A M Ó N I C A mãe de Santo Agostinho, imagem que ocupa o lugar central. Como em todos os restante também o azulejo representa cenas da sua vida de crente. No retábulo encontram-se a seu lado as imagens de Santa Verónica e de Santa Clara de Montefalco, monjas da Ordem de Santo Agostinho. O Santo Português, São Lourenço de Lagos, famoso eremita da Ordem Agostiniana, que, nasceu em Lagos, em 1360, ocupou em tempos o primeiro lugar nesta capela. Foi superior do Convento da Graça e de outras casas conventuais, incluindo o de Torres Vedras, cidade de que é padroeiro. Os azulejos desta capela focam diversos aspectos da vida dos eremitas de Santo Agostinho, com relevo para Santa Rita de Cássia. Viremos agora para o outro lado do templo. A primeira capela que encontramos é a de NOSSA SENHORA DAS DORES Antes da lei que expulsou as Ordens Religiosas de Portugal, onde se encontra esta capela era a entrada directamente do Convento para a igreja. Com a ocupação das Casa Conventual pelo exército, foi fechada em parede de alvenaria. Convém aqui notar que após a expulsão foram entregues as igrejas às Juntas de Paróquia, como depositárias, isto é eram entregues para os actos religiosos, mas a propriedade seria sempre do Estado. Ao centro do altar preside a imagem de roca (vestida de cetim, guarnecida de renda e galões finos e as espadas e diadema de metal prateado). Ao lado desta imagem, vêem-se, São Bernardo e Santa Catarina de Alexandria. Os azulejos que forram as paredes são anteriores à Capela e referem-se a São Nicolau Tolentino. Seguindo a nossa observação, deparamos com a capela de SANTA RITA DE CÁSSIA. Esta capela foi assim denominada até 1911, passando depois a ser de NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS. Como curiosidade, diz o opúsculo que nos tem servido de guia, para as nossas palestras na UBATI, que RITA, é a abreviatura de “MARGARITA”, nome assim grafado em Itália. Famosa então pela sua santidade no mundo cristão, foi-lhe dedicada esta capela aquando da construção do templo do Pópulo. Os azulejos das paredes laterais, são dedicados a esta Santa estigmatizada. No meio de um dos painéis de azulejo, estão representados Santo Agostinho, São João Baptista e São Nicolau Tolentino, santos que teriam concedido a graça, ou milagre, de ser introduzida no Convento, já que pela sua condição de viúva não poderia ser admitida. NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS ou IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA Passou esta Capela a ser também a sede das Confrarias do Santíssimo Sacramento dos Remédios, de Nossa Senhora das Graças e da Pia União das filhas de Maria, instituições que transitaram da igreja e Convento dos Remédios, quando em 1913, foi demolido. Várias foram as imagens que na igreja do Pópulo foram albergadas e vindas desse demolido convento, como Santa Inês, São Francisco de Assis, e outras mais. A seguir a esta capela pode ver-se a CAPELA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO Já antes do dogma da Imaculada Conceição, definido em 8 de Dezembro de 1854, os frades agostinianos professavam essa fé de maneira que, quando da fundação da igreja lhe dedicaram uma capela, com uma imagem da Senhora esmagando a serpente. Nesta capela as imagens estão relacionadas com a sua Sagrada Família. Assim São José, com o Menino, São Joaquim e Santa Ana. Os azulejos desta capela referem milagres obtidos por sua intercessão. No local onde existia uma porta do corredor de acesso do convento à igreja, fechado o vão como já dissemos, foi colocada a capela do SENHOR DA AGONIA Foi construída em 1880, graças à acção do Padre Manuel Martins de Aguiar, então capelão do Pópulo. Outras imagens estão profusamente colocadas nos altares, algumas vindas de templos demolidos, como o dos Remédios e Santo António da Praça ou do Campo de Touros. A TALHA DOS ALTARES Pelo menos sabe-se que o entalhador bracarense Marceliano de Araújo, trabalhou na talha de alguns altares da igreja do Pópulo. Robert C. Smith, refere que ali, Marceliano de Araújo, deixou impressa a sua arte no retábulo e base do altar de Nossa Senhora da Conceição e no altar de Nossa Senhora das Dores e desses trabalhos reproduzimos as gravuras inseridas na publicação “Marcelino de Araújo”, devida ao citado Robert Smith. . . . / . . .


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IGREJA E CONVENTO DO PÓPULO
Luís Costa A IGREJA E O CONVENTO DO PÓPULO Mandados construir pelo Arcebispo Dom Agostinho de Jesus (Castro) Sob risco provável de Manuel Luís (mestre pedreiro quinhentista) Fundados em 3 de Junho de 1596 (data da colocação da pedra fundamental) Concluídos em Cerca de 1621 UBATI – UNIVERSIDADE BRACARENSE DO AUTODIDACTA E DA TERCEIRA IDADE 2008 A IGREJA E O CONVENTO DO PÓPULO Baseando-nos em Senna Freitas, em “Memórias de Braga”, Tomo V, pag. 154, vamos referir, o que este memorialista nos diz sobre a fundação da Igreja e Convento do Pópulo. Principia por afirmar que o Arcebispo Dom Frei Agostinho de Jesus ( de nome patrício de Castro ), após a sua tomada de posse da cadeira arcebispal, quis fundar na Sé, uma capela que se destinaria a seu jazigo, mas não querendo seguir por si só a deliberação, propôs ao Cabido os seus desejos. No entanto o Cabido não só recusou tal ideia, como até se esforçou em dissuadir o prelado de tal pretensão. Até certo ponto Dom Agostinho achou-se um pouco ofendido com tal obstrução do Cabido. Tomou uma decisão: concebeu logo a necessidade de fazer o jazigo para os seus restos mortais, fora da Sé. Monsenhor Ferreira, nos “FASTOS”, III Tomo, dá-nos a impressão de que as relações entre o Arcebispo e o Cabido, não eram lá muito cordiais, e, talvez, tenha sido essa a recusa da capela pedida pelo prelado. Como tal, D. Agostinho de Jesus, toma a deliberação de fundar um Convento da sua Ordem Agostiniana, e para isso aproveitando o Campo da Vinha, que então ainda era chamado Campo da Vinha de Santa Eufémia, que estava quase que abandonado, sem cultura e sem destino e num dos seus lados levar avante o seu intuito. Para isso comprou, no ano de 1695, a António da Fonseca, duas moradas com seus quintais, no citado Campo. Sendo uma delas propriedade ou foreira ao Cabido e a outra do Hospital de São Marcos. No dia 23 de Dezembro desse mesmo ano, fez o arcebispo doação das referidas propriedades aos seus religiosos, mediante certas condições como obrigados a rezar duas missas quotidianas e, os religiosos teriam de acompanhar as procissões que o Cabido fazia, com excepção daquelas realizadas dentro da Sé. Não só a possível desavença com o Cabido contribuíram para a fundação da Igreja e Convento. Dom Agostinho, conta na Provisão da união da Igreja de Semelhe ( o conhecido castelo de Semelhe, casa senhorial, foi uma das casas de repouso dos Monges Agostinianos ) e ainda na de S. Paio de Pousada ao referido Convento que “tratara da erecção e instituição desta Casa monástica da sua Ordem, porque tinha observado durante as Visitas pastorais a grande falta de Pregadores no Arcebispado, e isto por não haver em Braga Escolas de Teologia dogmática, que só existiam nas duas Universidades de Coimbra e Évora…”.(FASTOS, Mons. Ferreira) Achava mais que os padres apenas sabiam Latim e Casos de consciência, não tendo, pois, as habilitações para exercerem, cabalmente, o seu múnus. A IGREJA E O CONVENTO Nestes propósitos, começou o Arcebispo a majestosa obra, tendo lançado a primeira pedra, a pedra fundamental, no dia 3 de Junho de 1596, dedicando a igreja a Nossa Senhora do Pópulo. Assim, destinou, a igreja, para seu jazigo, onde está colocado, num arco sólio, o mausoléu do fundador e, em frente, outro igual encerra, numa urna, o corpo incorrupto do Arcebispo D. Fr. Aleixo de Meneses que se lhe seguiu, também filho da Religião Eremítica Augustiniana. O INTERIOR DO TEMPLO De grandes dimensões e extensão (é uma das maiores igrejas bracarenses), o interior do templo, apresenta uma nave alta, coberta por uma abóbada de berço em pedra, esquartelada em caixotões graníticos, reforçada por arcos torais. O retábulo do altar-mor, é uma boa peça do século XVIII e é considerado um dos melhores desta arquiepiscopal cidade. O cimo deste retábulo imita em estilo e arranjo o das grandes basílicas. Segundo um opúsculo editado pela reitoria da igreja “Tem aos lados e em frente figuras que tem sido interpretadas como sendo a Igreja e a Sinagoga”. Ao centro da tribuna vê-se a imagem de Nossa Senhora da Consolação, que ocupa o lugar da padroeira Santa Maria do Pópulo, a quem D. Agostinho dedicou a igreja, dada a sua grande devoção a esta Senhora, culto que é muito praticado em Roma, no convento dos Eremitas de Santo Agostinho, onde esteve. Ladeando a imagem da Senhora da Consolação, vemos a de Santo Agostinho, padroeiro da Ordem dos Eremitas e, no outro, a de São Tomás de Vila Nova, que foi bispo de Valência e faleceu em 1555, já com fama de santidade, pelo seu espírito de santidade e pobreza. Debaixo do altar, num esquife, está a imagem do Senhor Morto. O S T Ú M U L O S A urna sepulcral de D. Agostinho de Jesus, elevada em relação ao pavimento da igreja, está metida, como já se disse, num arco sólio, inserido na parede, sustentada na frente sobre três leões que, nas garras, seguram as armas de fé de D. Agostinho de Jesus, o escudo de armas dos Castros, família da qual descendia o arcebispo. Em frente deste, como já anotamos, está a urna sepulcral de D. Aleixo de Meneses, igualmente sustentada por três leões, segurando também com as garras, o brasão de armas deste arcebispo. A igreja tem, além do altar-mor, sete capelas laterais, três do lado esquerdo, tendo como orientação a entrada do templo, e as restantes quatro do lado direito, sendo que duas delas foram, no século dezanove, colocadas nos antigos acessos por corredores ao convento, acessos entaipados, depois que passou a ser ocupado pelo exército. Todo o interior é forrado, até à abobada, de azulejos hagiográficos, do século XVIII, de magnificência extraordinária, focando aspectos da vida monástica da Ordem Agostiniana e de martírio de santos, como o do altar-capela de Santa Apolónia, assinados por António de Oliveira Bernardes, e que relata em desenho o martírio desta Santa – os algozes de tenazes na mão arrancando os dentes a Apolónia. A S C A P E L A S L A T E R A I S A Capela do Senhor dos Passos, hoje da “SANTÍSSIMA TRINDADE” Os retábulos das Capelas laterais, são dos finais do século XVII e princípios do XVIII. O seu estilo é do chamado “Estilo Nacional”, aqui bem representado, aliando a talha dourada ao azulejo parietal. Assim, partindo do altar-mor e depois de ultrapassado o arco cruzeiro deparamos com a antiga capela do Senhor dos Passos, cuja devoção teve início na demolida capela de Santa Ana, no Campo deste nome (Avenida Central) e que acabou por fixar-se na igreja de Santa Cruz. Os azulejos que adornam as suas paredes, representam, de um dos lados, o Senhor dos Passos e, do outro, a cena bíblica de Moisés elevando a serpente no deserto. Esta capela é hoje denominada de “Santissima Trindade”. Ao lado está a inscrição relaciona com uma obrigação, pois diz: “Esta Capela é de Salvador Magalhães Macedo seus Herdeiros, com obrigação de duas missas quotidianas – 1647”.Tem inseridas as armas desta família. Por debaixo deste altar está urna de Santa Susana, mártir no sec. III, com seu irmão São Vitor (?) ao tempo de Diocleciano. Em mísulas, ao lado e no altar estão as imagens de São Marçal e São Nicolau Tolentino. Senna Freitas, nas já citadas “Memórias de Braga”. tomo III, pag. 452, refere (relacionado com a visão de São Tolentino) no Pópulo, “no dia dez de Setembro, (data em que se comemora o seu falecimento), havia festa solene de São Nicolau Tolentino e neste dia repartiam uns bocadinhos de pão (os bolinhos de São Nicolau) tendo estampada a imagem do Santo. A bênção destes pãezinhos era feita com todo o aparato religioso”. . . . / . . .


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Quinta-feira, 2 de Outubro de 2008
O Palácio do Raio 2
Continuação: nº 2 O tecto pintado apresenta vários motivos e ali está representado o brasão do Visconde de São Lázaro. O azulejo da fachada é do século XIX, e deve ter sido mandado colocar por Miguel José Raio, após a compra do palacete, em 25 de Abril de 1853, por dez contos de reis, a José Maria Duarte Peixoto, herdeiro do primitivo possuidor. Então este prédio tomou o nome porque é hoje conhecido – do Raio. Quando foi agraciado com o título de Visconde, Miguel José Raio, mandou retirar da cartela do cimo da fachada o brasão do fundador, João Duarte de Faria, e colocar em substituição o seu no lugar vago. A primeira notícia sobre este imóvel aparece-nos no manuscrito de Manuel da Silva Thadim DIÁRIO BRACARENSE que a pag. 166, diz: “Atrás de S. Marcos faz João Duarte de Faria, Cavaleiro professo na Ordem de Cristo, Familiar do Santo Ofício, e Tendeiro que havia sido na Porta do Souto, umas belíssimas casas de pedra bem lavrada”. Esta notícia está inserida no final dos anais de 1754. O falecido Dr. Manuel Braga da Cruz, no seu trabalho “Quem habitou o Palacete do Raio ?”, inserido na revista Bracara Augusta, vol. XXIII, pag. 125, diz que João Duarte de Faria, era natural de Guimarães, onde nascera na freguesia de S. Sebastião, em 23/VI/1693, tendo falecido em 30/ IX/1767. Afirmou ainda o neste seu trabalho que em tempos, o palacete foi conhecido por Casa Grande dos Granjinhos. Nos ângulos norte (gaveto da rua do Hospital) e sul (gaveto da rua dos Granjinhos) do largo fronteiro, começo hoje da rua do Raio, mandada abrir pelo Visconde, em 1863,vêem-se duas casas em tudo semelhantes que este, ao jeito patriarcal, destinou às suas duas filhas, com jardim gradeado e apresentando sobre os cunhais dos portões, esculturas em cerâmica esmaltada a branco. Uma delas, a que serve as instalações da Vidioteca Municipal, viu destruído o seu espaço ajardinado e gradeado e as imagens que sobrepujavam os portões desapareceram, não sabendo nós qual o seu destino. A outra, onde em tempos foi a casa e consultório de um médico bracarense, estava integrada ultimamente nos serviços dos C. T. T., apresentando ainda hoje o seu aspecto original. Com a abertura desta rua até à então rua da Água, foi encerrada a Cangosta da Palmatória que, desde o Portão de acesso ao claustro do Hospital de São Marcos, era um dos caminhos de saída do Campo dos Remédios para a parte sul da cidade, em direcção a Guimarães, pela citada rua da Água. O Palácio do Raio parece que tinha a pesar sobre ele, uma maldição. Há quem se lembre que como o primeiro proprietário era membro influente da confraria de Santa Madalena, querem fazer querer que o dinheiro para a sua construção teria origem duvidosa, esquecendo que João Duarte de Faria, era um conceituado comerciante e que, praticamente, não foi durante a sua vida que o palácio causou dissabores ao seu proprietário. Depois da sua morte, muito depois, o seu herdeiro, administrando mal a fortuna do seu avoengo, dissipou-a, acabando praticamente na miséria, só lhe valendo a consideração de Miguel Raio que sabendo da sua situação, o chamou para a sua antiga casa e o tratou com toda a consideração até falecer em Janeiro de 1870. E continuando nas supostas “maldições”, a situação económica do Visconde de São Lázaro, deteriorou-se na parte final da sua vida, como diz o já citado Dr. Braga da Cruz, “pela queda da sua importante casa comercial do Pará (Brasil), ficando limitado aos seus haveres em Braga, bens de certo valor mas de pouco rendimento”. Como solução teve de recorrer a empréstimos, recorrendo ao Banco do Minho, primeiro ele mesmo e depois, os seus herdeiros, o que deu em resultado que, por falta de cumprimento das cláusulas dos empréstimos, por escritura de 28/XII/1882, o Banco tomasse para sua conta todos os bens, incluindo o Palacete, dados como fiança aos empréstimos. Finalmente e por escritura pública de 1 de Dezembro de 1884, o Banco do Minho, representado pela sua Direcção, vendeu o Palacete à Santa Casa da Misericórdia de Braga, sua actual proprietária. Neste edifício instalou a Santa Casa, alguns serviços como os de Radiologia, Oftalmologia e Estomatologia. Mas afinal quem era Miguel José Raio ? Devia ter sido uma pessoa importante na Braga em pleno século XIX e, de facto era-o. Miguel José Raio, nasceu em Braga, na rua Cruz de Pedra, em 10 de Maio de 1814 e faleceu nesta cidade em 14 de Agosto de 1875. Figura de grande destaque não só no meio comercial da cidade também como benemérito e homem de acção. Tratava-se de um capitalista brasileiro, tendo muito novo emigrado para a Terra de Vera Cruz, ali graças ao seu esforço singrou e onde granjeou fartos meios de fortuna, sendo considerado, quando do seu regresso à Pátria como “homem de abastados cabedais”. Pelos seus actos, principalmente beneméritos, foi agraciado mais tarde, como o dissemos, com o título de Visconde de São Lázaro. Como sabemos há, pelo menos três espécies de nobreza. Aqueles que dizem basearem os seus títulos numa ascendência visigótica, a chamada nobreza velha; aqueles que no campo de batalha pela sua coragem e valentia nesses campos a receberam das mãos dos reis, como os da Batalha de Aljubarrota e aqueles que pelo seu dinheiro, que por vezes era uma salvação para o erário público, ou pelas suas acções ( caso de Miguel Raio ), foram-no assim distinguidos. De entre as coisas notáveis na qual Miguel José Raio deixou a sua marca, foi o Banco do Minho, do qual juntamente com outros bracarenses foi instituidor. Tal era o seu prestígio no meio bracarense, que o imóvel que comprou, a antiga Casa Grande dos Granjinhos, passou a ser imediatamente conhecido pelo nome que hoje tem, e que portanto deriva do seu apelido - o Palácio do Raio. Braga, l de Outubro de 2008 LUÍS COSTA www: bragamonumental.blogs.sapo.pt www: bragamonumental2.blogs.sapo.pt www: varziano.blogs.sapo.pt email: luisdiasdacosta@clix.pt


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O palácio do Raio
Luís Costa O PALÁCIO DO RAIO ou CASA DO RAIO Mandada edificar em 1754, por João Duarte de Faria Atribuído o seu risco a André Soares ( André Soares Ribeiro da Silva ) UBATI – Universidade Bracarense do Autodidacta e da Terceira Idade 2008 PALÁCIO DO RAIO Situado no popularmente conhecido como largo do Raio, toponímia não reconhecida oficialmente, o Palácio ou Casa do Raio, é um dos mais singulares edifícios da cidade, e um cartaz turístico bracarense dos mais fotografados por inúmeros turistas. Mandada edificar por João Duarte de Faria, ao tempo mesário da Confraria de Santa Maria Madalena, da Falperra, com risco atribuído ao “arquitecto do Minho”, André Soares ( André Soares Ribeiro da Silva ), o Palácio ou Casa do Raio é também atribuído ao mesmo artista, tudo se conjugando para que assim seja, já que a data da sua construção é da mesma altura e, por certo Duarte Faria, não encomendaria a outro que não Soares, a feitura do seu palácio, dado que a fachada do templo de Santa Marta, onde era, parece que, mesário tesoureiro, deve ter influído e muito para o agrado da sua escolha. Assim, o Palácio, é uma obra prima do período setecentista, de típica arquitectura primitiva barroca, no melhor estilo joanino, “ró-có-có”, inspirado nas gravuras que a Portugal estavam a chegar, vindas do centro da Europa. Feliz adaptação “soaresca” ao estilo floreado francês “rocaille” , que segue o estilo da fachada do mencionado templo da Falperra. “Rocaille” é um motivo decorativo “nascido da estilização barroca das conchas (vieiras) usadas na decoração das grutas fingidas desde o Renascimento. Ganhando formas assimétricas num jogo de curvas e contracurvas…” – Selecções Readr’s. Na fachada, o portal, profusamente recortado e decorado, flanqueado por duas volutas ( tipo das do edifício camarário ) que se prolongam até ao balcão varanda desenhada em pedra e com balaústres, vêem-se, em cada canto, duas esculturas decorativas, que não interrompem a ilusão de que as volutas da entrada se prolongam até quase à platibanda do edifício, coroada por uma sucessão de balaustrada, interrompida ao centro por uma cartela, com as armas da casa, sobrepujadas por um frontão quebrado, sobre o qual se encontra um acrotério decorativo encimado por uma espécie de vaso florido. Recorrendo a Vaz-Osório da Nóbrega, e ao seu trabalho Pedras de Armas e Tumulares do Distrito de Braga, a cartela representa não as armas de do primitivo dono da casa, João Duarte de Faria ( as deste senhor encontram--se arrumadas sobre os muros da traseira do Palácio ) mas sim as do Visconde de São Lázaro, título com que foi agraciado Miguel José Raio, pelo rei Dom Luís, em carta de armas de 12 de Abril de 1872. A leitura deste brasão é a seguinte: Localização: - Casa do Raio. - Frontaria. Material: mármore Época: o Visconde de São Lázaro teve carta de armas em 12 de Abril de 1872 e faleceu a 14 de Agosto de 1875. LIÇÃO HERÁDILCA: Classificação: heráldica de família. Conjunto: - Escudo inglês. - Coronel de nobreza. - Timbre. - Folhas de acanto ladeando o escudo. - Fitas pendentes do escudo e das folhas de acanto, com a insígnia de Cavaleiro da Ordem de Cristo, do Brasil, e as comendas da Ordem de Cristo e de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. Escudo: Composição: partida. Leitura: I GONÇALVES, de Antão Gonçalves (1) II OLIVEIRA (2) Diferença: uma brinca com besante (3) Timbre de GONÇALVES, de Antão Gonçalves (4) (1) Banda carregada de dois leões rompantes. (2) Uma oliveira carregada. Indicando esmalte do campo (vermelho) A platibanda está escondida por um balaústre de papos, sobre o qual se podem ver seis vasos ou urnas, flamejantes ( três em cada lado da balaustrada ) e, nos cantos, rematando os cunhais, quatro bojudos, simulando urnas fechadas. Penetrando no edifício, vamos encontrar como na Domus Municipalis um átrio, um pouco maior que êste, mas a sua disposição e formato obedece aos mesmos cânones – de cada lado uma porta de acesso a gabinetes e frontalmente uma portada central, de grande formato e imponência de entrada para a escada para o andar superior e aos lados desta uma porta, como na Câmara. De notar, na portada central, anteparo da escada, a decoração nos vidros (cristal ?) a fogo. O lambrim que se apresenta em todos os lados da escada nobre, bem como no patamar que se segue ao primeiro lanço, são azulejos do século XVIII, (azul e branco) com motivos de caça, alguns exóticos, lembrando o autor da azulejaria, de cabeceira, do Panteão de São Vicente, em Lisboa. Os azulejos estão, ou estavam quando por lá passamos, em franca deterioração. Segundo nos informaram parece que já estão tratados ou o vão ser, pois também nos informaram que o Palácio, no futuro será destinado a Museu da Santa Casa, esperemos que assim seja. No entanto algo cremos ser irremediável. Referimo-nos a azulejos de algumas dependências superiores que, em tipos idos, foram danificados e possivelmente arrancados. Dos que restavam julgo, pois já se passaram vários anos depois que os apreciamos, não eram figurativos, mas parece-nos que eram do tipo holandês, muito embora de fabrico nacional. Como em São Vítor, no lambrim do patim ou patamar em que a escada se divide em dois lanços, há também uma discrepância - o painel está cortado e a cena que representa interrompida, pelo que é de pensar que o desenho do azulejo era maior do que o painel. Ao chegar a este patim ou patamar uma coisa chama a nossa atenção. Trata-se dum nicho que alberga uma figura que alguns chamam de “Mexicano”, dando em resultado que, por vezes, o verdadeiro nome do Palácio é trocado pelo Palácio do Mexicano. Esta figura empunha um facho de algumas luzes, hoje lâmpadas eléctricas e outrora, primeiro velas e depois, talvez, bicos de gás. . . . / . . .


publicado por Varziano às 19:48
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