Quarta-feira, 10 de Dezembro de 2008
A Igreja de São Lázaro -continuação
A igreja de São Lázaro 2 – continuação Sobre a colocação a meio das pontes de uma cruz, temos para exemplo uma na ponte medieval de Ponte de Lima. Por vezes em vez da cruz, aparece, substituindo-a uma legenda epigráfica com inserindo ao lado de outras indicações, uma oração ou conselho como, por exemplo, na ponte de Prado: “Esta obra fez António de Castro, da vila de Viana, no ano de 1676. Enquanto tiveres (vida), deias (dá). Mira (olha) por ti, sê prudente. Asi (assim) como se paga a ponte se paga a vida brevemente”. Como curiosidade, e para ficarmos com um breve conhecimento, reportando-nos a Belino e á obra citada, “a forma da cruz de Cristo, dois paus atravessados em ângulo recto, é egípcia. O vocábulo, derivado do latim crus, significa tronco de árvore abaixo da bifurcação: assim eram as primeiras cruzes a que se condenavam os presos como o foi São Sebastião. Mas voltemos ao Cruzeiro de São Lázaro. A princípio estava quase contíguo à igreja, num pequeno largo formado ao lado norte, onde os Granginhos se ligavam à rua da Água, e foi feito em 1735. Tem uma imagem de Cristo Morto, e a coluna, diz Belino, é dividida em gomos salientes que se desenvolvem bastante na parte inferior, como se pode ver na gravura que ilustra este caderno. Na base lê-se da inscrição: “Senhor das Necessidades, reformado à custa dos devotos no ano de 1884”. Quando as obras iniciais para a abertura da Avenida da Liberdade, foi removido para o terreiro de entrada da sacristia onde, como já dissemos, estava quase escondido pelo muro. Quando a Avenida principiou a ser rompida em 1906, decalcando a rua da Água e casas, quintais, hortas, pomares, tanques e poços, e que ficavam a um nível inferior ao piso actual, a igreja foi poupada pois ali terminou a primeira fase da grande obra que a Câmara do princípio do século XX idealizou – uma grande avenida ligando o centro da cidade ao lugar de São João da Ponte e caminho de Guimarães. Cerca dos anos 50 desse século, estando a Câmara sobre a presidência de Santos da Cunha, continuou a abertura do restante até à Ponte, mas a igreja ali continuou “de pedra e cal” obstruindo a perspectiva da avenida. Finalmente, por finais dessa década, foi resolvido o imbróglio, com o acordo para, por perto, se construir um novo templo. E assim graças ao empenho do Arcebispo Dom Francisco Maria da Silva, foi possível inaugurar em 1976, uma nova igreja de linhas modernas, risco do arquitecto lisboeta José Maria dos Santos, na continuação da rua 25 de Abril. Junto a êste novo templo foi, como homenagem ao arcebispo que incrementou a nova construção, foi erigido a estátua de Dom Francisco Maria da Silva, e ao lado, no espaço ajardinado ao lado direito, foi colocado o elegante cruzeiro a que nos referimos acima. A escolha desta feliz localização, deve-se a várias diligências de alguns paroquianos. Chegou a aventar-se a hipótese de ser recolhido no Museu Don Diogo de Sousa, mas este não concordaram em sair do espaço da freguesia e chegaram a dar a sugestão do Largo do Rechicho mas com a construção do novo templo, a opinião foi unanimidade no actual local. O TEMPLO ANTIGO Era constituído por uma só nave, com altares laterais e ao cimo a Capela Mor. Podemos dizer que o seu interior era bem modesto, nele apenas sobressaía a talha da tribuna, sanefas, executadas por volta dos anos trinta do século passado numa oficina de entalhador situada na rua de Santa Margarida. Os lambris das paredes interiores eram revestidos a meia altura por azulejos, com motivos dos martírios de Cristo. As imagens de valor foram transferidas para o novo templo, bem como para ali passou o rico Arquivo Paroquial no qual estão registados factos relevantes ocorridos na paróquia como, por exemplo, o registo da sepultura do Engenheiro Villa Lobos, assassinado no Alameda de Santa Ana (Avenida Central), aquando das invasões francesas. São várias as valências que a Paróquia de São José de São Lázaro, presta a sua numerosa população residente e não Só. São elas a ATL creche e Jardim de Infância, Lar da Terceira Idade, Centro de Dia, Apoio Domiciliário, CRIAS (Centro de Resposta Integrado de Apoio aos doentes da Sida) e ainda à nossa associação UBATI (Universidade Bracarense do Autodidacta e da Terceira Idade), à qual tem dado especial carinho, que muito agradecemos, alunos, professores (entre os quais sou um modesto colaborador) e funcionários. UM POUCO DE HISTÓRIA DESTA GRANDE FREGUESIA Sendo uma das maiores freguesias da cidade, freguesia em constante expansão que já mereceu a sua desmembração com a criação da paróquia de Santo Adrião que lhe pertencia, deve em parte a sua riqueza ao longo dos anos pela pujante indústria, centrada principalmente pelo rio que corre ao longo do seu vasto território – o rio Este. O seus moinhos de pão que sustentaram ao longo dos anos o fornecimento de farinha, para o principal alimento das populações bracarenses, moinhos situados nas suas tão desprezadas e inaproveitáveis margens, por quem de direito que tinha a obrigação de as proteger, foram em tempos idos, quando o rio era saudável e não um “encanudado” e pestilento foco de imundice, um saudável recanto desta arquiepiscopal cidade. Ali se pensou em instalar uma pequena hidroeléctrica, foi criada uma fábrica de papel e já no século vinte uma saboaria, mas uma das suas principais fontes de fama foram aas águas termais que, apesar de pouca valia, serviram para serem usadas para doenças de pele. Na sua margem, junto à agora rua dos Barbosas, existe a famosa fonte dos Galos, considerada durante muitos e muitos anos como o fontanário que melhor água fornecia a Braga. Mas o lugar de São Lázaro correu mundo quando, no século dezoito, aqui foi instalada uma fábrica de armas de guerra e caça, as famosas LAZARINAS, então consideradas pelos especialistas, como as melhores armas da Europa a ponto de serem copiadas por uma fábrica belga e que em qualidade lhe eram inferiores. Aqui esteve para ser montada, por um alemão casado com uma moça de São Lázaro, uma fábrica de cerveja. Ainda nos anos vinte do século vinte ali foi montado um balneário público, para servir a população bracarense, com instalações então modernas e cujas plantas do edifício, preços, adjudicação do concessionário se encontram no Arquivo da Câmara Municipal de Braga. Tem a honra de ter tido a primeira fábrica de sinos de Portugal – o Anuário Pitoresco de Portugal, ano 1864, anota que existiam ferramentas da fábrica de Braga, Manuel Ferreira Gomes, datadas de 1630. Já nos nossos tempos, foi a freguesia distinguida com instalações desportivas – o Estádio inaugurado em 28 de Maio de 1950 e a primeira piscina, ambos no Parque da Ponte. Cabe a São José de São Lázaro a honra de albergar dentro do seu circuito o principal motivo de atracção festiva da cidade - as Festas de São João que, teimosamente querem apelidar de Festas da Cidade, e que trazem a Braga, no solstício de verão, milhares de forasteiros de Portugal de norte a sul, ao campo da Ponte, num arraial puramente minhoto. Nesses dias calmosos de verão a capelinha-ermida de Nossa Senhora do Ó e de São João, enche-se, noite e dia, de romeiros que ali vão cumprir as suas promessas ou rogar o auxílio ao Santo Percursor para os males de cabeça. Nesses dias não podemos de deixar aqui anotar, os quadros bíblicos no rio com destaque especial para a figura gigantesca de São Cristóvão transportando nos seus possantes ombros o Pequeno Deus Menino. Braga, 10 de Dezembro de 2008 LUÍS COSTA www: bragamonumental.blogs.sapo.pt www: bragamonumental2.blogs.sapo.pt www : varziano.blogs.sapo.pt Email: luisdiasdacosta@clix.pt


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A igreja de São Lázaro
LUIS COSTA A antiga IGREJA DE SÃO JOSÉ DE SÃO LÁZARO Freguesia e Paróquia instituída em 1747 pelo Arcebispo Dom José de Bragança Como Paróquia de São José de São Lázaro No local da antiga ermida de São Lázaro Mandada construir pelo Arcebispo Dom Frei Caetano Brandão UBATI – Universidade Bracarense do Autodidacta e da Terceira Idade 2008 A PARÓQUIA DE SÃO JOSÉ DE SÃO LÁZARO Tendo vagado a freguesia de São Vitor, por morte do seu pároco abade Dr. Manuel de Mello e Lima, em 2 de Março de 1747, aproveitou o ensejo o arcebispo Dom José de Bragança para dividir a paróquia de São Vitor, que pela grande extensão e numerosa população não podia ser curada por um só pároco. Monsenhor Ferreira, nos “Fastos”, diz que a dividiu, desmembrando-a e com essa parte, criou a freguesia de São José, na Capela de São Lázaro, provendo e colando nela, em 5 de Setembro de 1747, o padre João de Couto Ribeiro. No entanto para preservar para o futuro o nome do patrono da capela, acrescentou à designação da nova freguesia e paróquia o antigo nome da capela, pelo que ficou determinado que a freguesia seria nomeada por FREGUESIA E PARÓQUIA DE SÃO JOSÉ DE SÃO LÁZARO. Esta informação foi recolhida por Monsenhor Ferreira, no Diário Bracarense de Silva Thadim, a pag. 155, nota que tem por título VIGAIRARIA DE SÃO LÁZARO. Pertencendo a área que hoje ocupa, desde tempos imemoriais, a São Vitor, São Lázaro em pleno século dezoito conquistou, podemos dizer, a sua independência dado o seu extraordinário povoamento que se originou, entre outros aspectos, à sua situação nas margens do rio Este, factor de desenvolvimento, com a sua rudimentar mas necessária indústria de moagem de pão, um dos mais imprescindíveis alimentos da população. Ao longo do pequeno rio, especialmente no lugar dos Galos, numerosos moinhos, tinham na força hidráulica a sua fonte de energia. Ainda hoje restos dessa indústria se pode observar. Mas estamos a fugir do principal motivo deste caderno – a velha igreja da paróquia de São José de São Lázaro. Estava situada ladeando a velha rua da Água, como era conhecida toda a extensão da via que partindo do Campo de Santana (hoje Praça da República) se dirigia à ponte de São João, caminho da Falperra em direcção a Guimarães. Esta via popularmente tinha três nomes: o primeiro Rua das “Agoas” até à igreja de São Lázaro, que aí tomava o nome do patrono da igreja: de seguida mais à frente era conhecida até à velha ponte romana ( ponte restaurada por Carlos Amarante, depois de destruída por uma grande enchente em 1779, que provocou a morte a 32 pessoas ) atribuíam o de rua da Ponte de São João. Albano Belino, em “Archeologia Christã”, diz que “a actual igreja, de arquitectura simplíssima, foi mandada construída a expensas do arcebispo Dom Frei Caetano Brandão”. De facto pela gravura que ilustra este caderno podemos atestar esta apreciação do consagrado autor. A fachada do templo de São Lázaro era dividida, praticamente, em três aspectos visuais. O primeiro incluía a porta de entrada até ao friso onde se iniciava a segunda, que incluía um grande janelão e a terceira, como remate, era composta pelo frontão triangular. Analisemos agora em pormenor cada um destes aspectos. No primeiro destacava-se a porta de entrada, colocada sobre uma série de quatro degraus, em escada, quer dizer, os mais extensos junto ao pavimento da rua, diminuindo os outros em escala até chegar à soleira. Em cada lado da porta, estibolátos, serviam para suporte e começo das pilastras, encimadas por simples capitéis, prolongavam-se até ao cimo do conjunto que a envolvia e suportava a arquitrave. Esta era ladeada por ombreiras que desde o degrau da entrada, se erguiam até à verga um pouco abaulada que nelas se apoiavam. Ao lado, nas paredes e junto às pilastras dois pequenos motivos, sem qualquer ornamento. Sobrepujando esta primeira parte, uma cintura de pedra, ao redor de um quase cobertura, assentava uma composição pétrea, decorada em almofadas, servia de base, ao grande janelão, com vidros em quadrículas, iluminava o interior do templo. Nesta segunda parte em que dividimos a fachada nada mais existia de menção. Para início da terceira parte, via-se uma espécie de cornija que se prolongava para as faces laterais e que era a parte inferior do frontão fechado, triangular, ao centro do qual se encontrava uma cartela com decoração. Para rematar a fachada, sobre as colunas laterais, viam-se duas urnas, estriadas, rematadas por uma espécie de floreiras. Ao centro do ângulo superior, num acrotério, um pseudo barroco, suportava a cruz arcebispal. Quanto à fachada em si, nada mais merece apreço o que é o mesmo que dar razão a Belino. Na gravura que inserimos há no entanto motivo para chamarmos a atenção. Referimo-nos a dois aspectos que ela apresenta. Na parte esquerda vemos duas representações. Uma em que se nota uma janela de guilhotina tem na parte baixa, sobre um pequeno telhado, uma porta envidraçada. Era um oratório do Senhor da Aflição. No qual se venera ainda uma pintura de Cristo e que foi transferido para o lado norte de um dos edifícios que os Serviços Sociais da Caixa de Previdência construiu depois do derrube do velho templo. Ao lado uma porta, num muro de alvenaria dava acesso à sacristia. Curiosa é a representação de um pormenor, quase escondido que ali se vê, um remate de uma cruz. Trata-se do Cruzeiro de São Lázaro. Durante muitos anos ocupou o logradouro da sacristia, e o muro que encerrava este logradouro não permitia a sua vista. Como tal só e apenas algumas pessoas o conheciam. Cabe aqui fazer uma referência ao símbolo da cruz. Para isso seguimos Albano Belino e a sua obra “Archeologia Christã” que sobre este símbolo refere: “Já no tempo dos egípcios, cartagineses, assírios, persas, hebreus e gregos, a cruz era aplicada aos suplícios de malfeitores, introduzindo-a Tarquínio Soberbo em Roma para a execução das sentenças de pena última; e subsistiu este costume até que o Imperador Constantino Magno, em atenção ao suplício de Cristo, a fez venerar como símbolo que é a redenção da humanidade. Desde então o lábaro santo principiou a aparecer hasteado, como pregão de paz e amor, perdão conforto e esperança, na cúspide dos montes, nas povoações sertanejas e nas cidades e vilas, sobre a coroa dos monarcas, junto das encruzilhadas e sobre as pontes…” E assim a cruz, que até então era um símbolo de castigo, passou a ser um símbolo de paz e amor, disseminada por toda a parte, desde os mais recônditos lugares até aos mais diversificados. Já agora e, como se costuma dizer, como “estamos com as mãos na massa”, vamos alongarmos um pouco mais sobre as “cruzes”, e deixaremos para mais adiante falarmos no Cruzeiro de São Lázaro. Por vezes nas pontes encontramos estes símbolos da religiosidade. Segundo o autor acima citado, uma cruz numa ponte quer dizer: “Podeis crer que são duas pontes: por uma se vai ao céu, por outra se passa o rio”. Afirma também que no norte de Portugal era frequente a prática dos montinhos de pedra junto de uma cruz no local onde alguém tinha morrido de desastre ou violência e que esses montinhos de pedras se formam rezando por cada pedrinha que se coloca junto da cruz, um Padre Nosso, e às quais lhes chamava o povo “Fiéis de Deus”.


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