RUA LEANDRO BRAGA
A talha, juntamente com a marcenaria tem, em Braga, pergaminhos que já vem de longa data reconhecidos não só no País como até no estrangeiro. Isto podemos afirmar e confirmar, pelo menos, baseando-nos numa informação publicada há anos no jornal diário portuense “O Primeiro de Janeiro”, na secção cultural, quando se refere a uma carta escrita a um oficial francês, aquando da segunda Invasão Francesa, comandada por Soult, estanciada por esta região.
Essa missiva, dirigida ao oficial, escrita por um amigo e remetida de Paris, dizia mais ou menos o seguinte :
“Peço-te o favor de, da cidade de Braga, me trazeres uma mobília de mogno, em talha, que segundo informações, numa povoação por ali por perto, bons artistas as trabalham. Mas deves proceder com muito cuidado pois, por vezes, esses entalhadores conseguem dar ao mobiliário um aspecto muito antigo, quando as peças são, praticamente, acabadas de sair das suas mãos.”
Quanto à “marosca”, se era então verdade, seria, talvez, uma maneira de enganar o invasor, e como tal não é de desprezar o facto.
Como vemos, portanto, a habilidade dos mestres entalhadores, não é de hoje mas sempre foi uma arte que em Braga, se afirmou como excepcional.
Braga, teve até cerca dos anos de 1970 e poucos mais, uma escola de entalhadores na Escola Carlos Amarante, cujo mestre era um conceituado entalhador e industrial da rua de São Marcos, de seu nome Coutinho. Pena foi que a reforma devida ao então Ministro Veiga Simão, tivesse acabado com os Cursos Técnicos, neste caso Industrial, e que sem qualquer reparo das forças vivas bracarenses e, como resultado, as máquinas e ferramentas acabaram, certamente, por enferrujar e apodrecer nos armazéns da Escola, como coisas inúteis.
No entanto, devemos esclarecer que nem todos aceitaram de bom grado essa extinção. Devemos citar o desagrado manifestado por um então Professor arquitecto da Escola, que num artigo publicado num jornal diário bracarense e até numa sessão pública camarário foi, por alguém, levantada a questão, de nada valendo estas intervenções, dado que a extinção dos Cursos Práticos foram avante. Hoje ainda se está a sentir, em muitos, essa trágica resolução.
Ao darem a mão à palmatória, vieram há já alguns anos a criarem de novo Escolas Profissionais, e ainda bem.
Mas dirão, que tem a ver todos êste arrazoado, com o título desta crónica? Ora ele serviu de preâmbulo para podermos lembrar, Leandro de Sousa Braga, que se impôs, no século XIX, como um dos mais notáveis artistas, entalhador e escultor bracarense que fez, praticamente, a sua carreira em Lisboa, e que tem em Ferreiros, ao lado de outros seus congéneres, o seu nome numa rua desta freguesia.
Trata-se da rua Leandro Braga, que tem início na rua Frei Cipriano Cruz, e terminus na Marceliano de Araújo.
Recorrendo à monografia “Santa Maria de Ferreiros”, vemos que :
“Leandro de Sousa Braga, entalhador e escultor notável, nasceu em Braga a 22 de Março de 1839 e faleceu em Lisboa a 6 de Abril de1897. Foi para a Capital com 14 anos para uma oficina de entalhador. Em 1862 passa para o atelier do escultor António Calmelos que então trabalhava na execução do Arco do Triunfo da Praça do Comércio (Terreiro do Paço), obra em que colaborou. Executou na sua oficina na Calçada do Combro, esculturas em madeira. O rei D. Fernando, a rainha Dona Maria Pia, os Duques de Palmela, o Marquês da Foz e outros encomendaram-lhe várias obras de talha. No Palácio Foz, na Praça dos Restauradores, executou a escada, Gabinete Renascença, as salas do Baile e Luís XVI. Soares dos Reis modelou-lhe o busto num medalhão datado de 1888. Vários admiráveis trabalhos nos Palácios Reais da Ajuda e Belém, são da sua lavra.”
Eis pois, um pequeno curriculum deste artista do século XIX, que impôs a arte de talha bracarense, na capital de Portugal e foi homenageado pela Câmara de Braga, ao atribuir o seu nome num arruado da sua cidade.
Braga, 1 de Maio de 2008
LUÍS COSTA