Domingo, 20 de Dezembro de 2009
Bom Jesus 2
Bom Jesus, continuação da primeira parte – cad.nº 2 (1 do 2º C.) O papa Sixto IV, concedeu por bula de l8 de Setembro de 1471, a João Vaz, Arcediago de Neiva , que, somente em sua vida, Tenões , com as restantes, igrejas anexadas por Dom Fernando da Guerra, incluindo a ermida de Santa Cruz, lhe fosse unida à conezia. A freguesia de Tenões - Santa Ovaia – era da apresentação e colação dos Arcebispos, conforme se pode comprovar pelos registos do século XV. Ora este facto não impediu que Martim Manuel fosse, pelo papa Alexandre VI, nela provido em 1502, ao tempo do arcebispo dom Diogo de Sousa, que o elevou à dignidade de Arcediago de Neiva, como sucessor de João Vaz, anexando-lhe à conezia, vitaliciamente a igreja de Tenões, com a ermida de Santa Cruz. Era então Deão da Sé de Braga, Dom João da Guarda, criatura e feitura, diz Alberto Feio, de Dom Jorge da Costa, que veio para Braga usufruindo avultadas rendas, tomou um chão junto a São João do Souto, para nele fazer a casa da sua residência e, colocou sobre a porta principal, o brasão do seu protector o arcebispo Dom Jorge da Costa, acrescentando-lhe a insígnia de Deão. Assim Tenões com a já conhecida por Ermida de Santa Cruz do Monte, passou a andar unida in perpetuum ao deado bracarense, então dignidade ocupada por Dom João da Guarda O novo vigário de Tenões, diz Alberto Feio, “levado pela piedade ou opulência”, mandou erguer, em 1522, um templo condigno, verdadeira igreja, em cantaria lavrada ao gosto da época, um gótico peninsular, como o provam alguns restos guardados no museu e o fragmento duma porta dessa primitiva igreja que há poucos anos estava no jardim da Casa do Passadiço. Por esse tempo, como sabemos, era Deão da Sé, Dom João da Guarda, que para ocupar esta dignidade em Braga, resignou do mesmo cargo na Sé da terra da sua naturalidade – Guarda – cargo que sabemos incluía a Ermida que havia séculos enfeitava a ilharga do Monte Espinho, e que era, por certo, de singela traça, minguando para o crescente culto divino à Vera Cruz. Assim como vigário da freguesia, resolveu como acima se diz construir um templo condigno. É disso testemunho, uma lápide com uma inscrição, achada em 1839, quando se construiu o escadório das Virtudes, e está encastoada na parede do último lanço do escadório. Assim como fizera na casa do Passadiço, mandou guarnecer o novo templo com o brasão do seu protector e senhor, Dom Jorge da Costa, acrescentando como já o fizera em Braga, o símbolo de Deão. Esta pedra de armas de fé está embutida no escadório no lado oposto ao da lápide com a inscrição atrás referida. Serviu este brasão para estabelecer uma grande confusão que levou a atribuir a fundação ao Arcebispo Dom Jorge da Costa. Um século passado sobre a morte do instituidor da primitiva igreja, Dom João da Guarda, principiou e quase se anulou a concorrência devota a ermida da Vera Cruz. (2 do 2º C) Desamparada, continuamos a seguir Alberto Feio, a igreja sofreu com o esquecimento dos povos, a aspereza do tempo e até com o desinteresse do vigário da freguesia. Certo dia, correndo o ano de 1629, numa visita de alguns bracarenses ao local da mui antiga devoção, que a piedade ali juntara, pensou em ressuscitar o antigo brilho do culto. Nasceu então o pensamento da fundação de uma confraria, com o encargo de reacender a devoção quase extinta. Cresceu, avolumou-se e difunde-se. Reunindo esforços e vontades, dentro em pouco está redigido e aprovado pela Cúria Arcebispal o Compromisso da confraria ou irmandade, sob a invocação de Bom Jesus do Monte. A velha designação de Santa Cruz do Monte, Vera Cruz, cedeu o seu nome perdura. Pobre de recursos, a nascente confraria procurou de todos os modos aumentar os seus réditos, aumento o número de confrades, fazendo peditórios pelas aldeias e cidade ao mesmo tempo que fazia a representação de autos e bailados sacros e de cenas bíblicas que atraíam muita gente às festas mais solenes. Entretanto um facto histórico contribuiu, e muito, para que a fama e devoção galgasse as fronteiras do Minho. Tratou-se da Independência de Portugal do jugo castelhano, no glorioso dia 1 de Dezembro de 1640. Todos atribuíram o sucesso à intervenção divina. Havia até quem afirmasse que durante dias um sinal luminoso apareceu sobre o Monte Espinho - um cálice da consagração rodeado de um esplendor que muita gente dizia tinha observado. O povo então ocorreu a agradecer ao Bom Jesus o favor com que tinha distinguido o pequeno reino lusitano. Restaurada a capela graças a estes esforços, dotada de paramentos e alfaias, entregam a um ermitão a sua guarda, que o cuidou com zelo fervoroso até à sua morte. Todo o pouco que possuía deixou-o à instituição, tornando-se assim o primeiro testador do Bom Jesus. De seu nome Pedro do Rosário, quis prevenir a tempo a sua sepultura. Tendo falecido a 11 de Dezembro de 1664, sendo enterrado na igreja perto do local em que a sua memória é recordada, através de uma lápide que tinha mandado fazer em 1647, e que está colocada, quase invisível, gasta pelo constante desgaste dos pés que a pisaram e pisam, e que está colocada ao cimo do escadório das Virtudes, e a qual diz : “A SEPOLTª Q MANDOU FAZER, Pº DO ROSÁRIO PRIMRº ERMITÃO 1647”. No entanto êste não foi o primeiro ermitão, como quer fazer crer a lápide, pois antes, no tempo de D. João da Guarda, ou logo a seguir, um outro de nome Pedro Anes, por ali andou. Não se poupou a esforços a nascente confraria para transformar aquele sítio quase ermo, numa das mais concorridas e pomposas devoções da província. Espalhou minúsculas ermidas, pelo caminho da montanha que mandou abrir, nelas representando Passos da maior tragédia cristã, com um figurado feito por artesãos populares, edificou albergues para os romeiros, paredões para segurança dos adros, enfim transformou por completo aquele sítio até então quase ermo. ( 3 do 2º c) Dadas as transformações e benefícios que os romeiros passaram a ter, a devoção foi aumentando e por conseguinte as esmolas iam ali caindo com generosa abundância. A prosperidade do Santuário e a fartura da confraria despertou a cobiça do Deão D. Francisco Pereira da Silva, pessoa de qualidade e de hierarquia veneranda – era da Casa dos Biscainhos - logo pensou em se apoderar dos rendimentos da novel confraria. Alegou o facto de ser alta dignidade da Catedral Bracarense e que todos os direitos lhe pertenciam como sucessor de Dom João da Guarda na abadia de Tenões. Dois anos durou a luta entre o Deão e a Confraria, luta desigual, fez com que os confrades desamparassem o templo, isto em 1710, deixando a sua administração por não suportarem um litígio em que não podiam vencer, embora a justiça estivesse do seu lado. Entregaram às garras do Deão tudo o que pertencia ao Santuário e deste modo perdeu-se todo o arquivo, todas as lembranças da primeira confraria, até os nomes dos instituidores ficaram na obscuridade. O novo senhor absoluto da rica benesse, cuidou apenas de a recolher para seu proveito, desprezando a devoção do templo que entrou em decadência e esquecimento. Foram onze anos, o suficiente para a quase ruína da secular devoção. Os romeiros principiaram por rarear e por conseguinte as esmolas foram desaparecendo e em consequência, danificaram-se as ermidas e a própria igreja. ( Continua no terceiro caderno e agora com o nº 3)


publicado por Varziano às 11:42
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