Sexta-feira, 12 de Setembro de 2008
Revestimento de paredes
São Vitor --- 2 --- O REVESTIMENTO DAS PAREDES INTERIORES OS AZULEJOS Está devidamente documentado que os azulejos que adornam o interior da igreja vieram de Lisboa, como está documentado que o assentador dos mesmos foi o “mestre de assentar azulejo”, João Neto da Costa, de Vila do Conde. Smith que dedicou várias horas ao estudo deste templo, diz que o mestre de Lisboa que estava para os vir assentar não o fez, assim como não mandou as medidas necessárias para facilitar o trabalho do assentador de Vila do Conde. Talvez, e por isso, se nota no painel da capela-mor que mostra “O passeio de São Vitor”, uns defeitos, uma quebras de paisagem, que choca por nos parecer que aí falta qualquer pormenor. Esta nossa observação tem até certo ponto razão, pois sabemos que, por exemplo, na escada de acesso ao coro as paredes estão recobertas de uma mistura de restos de azulejos (frisos, figuras, cabeças de anjos e outro motivos, iguais a outros colocados na nas paredes interiores da igreja). Também na sacristia foram aproveitados outros restos. Devemos assinalar que apenas notamos esta discrepância num só painel. Talvez uma observação mais atenta se encontre em outros. O eng. Santos Simões dedicou várias horas e dias ao estudo da azulejaria que recobre essas paredes, com a finalidade de ver se conseguia atribuir o autor do desenho. Apesar do seu interesse, das suas canseiras e muito especialmente pela sua morte, não conseguiu desvendar o mistério. Coube essa honra a Robert Smith que, por comparação com os azulejos da igreja de Arroiolos, no Alentejo, da capela da Barcarena, em Lisboa, e ainda entre outros os da capela-mor de S. Bartolomeu, da Charneca do Lumiar, assinados e datados de 1697, chegou à conclusão, dada a semelhança de estilo, de figurado e de decoração, que o autor dos azulejos de São Vítor deveria ser o mesmo, ou seja o artista espanhol Gabriel del Barco e Minusca, estabelecido em Lisboa e cuja carreira como pintor de azulejos é conhecida como tendo decorrido no período entre 1690/1700. Ora, dada a aproximação de datas, conclui Smith, que os painéis de São Vítor, deveriam ter sido executados, mais ou menos, pela altura dos da Barcarena. Representam os de São Vítor, vários aspectos da vida e martírio do santo catecúmeno – São Vítor – e bem assim aspectos da vida, milagres e martírio de alguns santos mártires da região bracarense. Assim os da capela-mor são especialmente dedicados a São Vítor, desde o passeio à roda dos campos em homenagem à Deusa Pagã, Ceres, à degolação de Vitouro em sentença romana, por não adorar os deuses pagãos. Foi aproveitado para a representação desta cena o texto de Dom Rodrigo da Cunha. Que no primeiro volume das sua “História Eclesiástica de Braga”, nos conta a história deste “mancebo, o catecúmeno por nome Vítor, varão que ante do baptismo já vivia como cristão abominando os ídolos, e zombando da sua falsa divindade, natural de uma aldeia perto de Braga, chamada Paços”. Num dos lados do altar-mor, o do Evangelho, está figurada a passagem da estátua de Ceres enquanto que, no lado da Epistola, se vê a sua coração com flores. No primeiro vê-se Vítor, passeando em trajo de soldado e, no segundo se pode admirar um rico figurado no qual nos aparece o catecúmeno recusando a coroa de flores aos pés de uma espécie de altar onde um grupo de mulheres de música que sob a folhagem de um pequeno souto toca os seus instrumentos arcaicos, em louvor a Ceres. Nesta parte da igreja focam-se assim vários aspectos da vida de Vítor, desde o seu passeio, passando pelo julgamento até ao seu martírio. Nas paredes laterais da espaçosa nave, estão representados outros aspectos da vida e martírio de outros santos da região como Santa Liberata. Ao todo estão representados nos painéis nada menos que dezasseis santos e seis santas locais. Num desses painéis está representado o milagre de São Rosendo, milagre que teve lugar no Mosteiro de S. João de Vieira, em Basto e que Dom Rodrigo da Cunha relata dizendo que conversando São Rosendo com sua irmã Santa Senhorinha, dois operários fizeram mau juízo dessa prática e que não “dilatou Deus muitas horas o castigo de entedimetos tão soltos… (e que) de súbito entrou em ambos … o demónio, e dando com eles do telhado abaixo, os matou… invocando ( São Rosendo ) sempre o nome de Jesus… os restitui à vida”. Dominando o coro vê-se o painel de São Paterno, 19º Prelado de Braga, o qual está presidindo a uma reunião no Concílio de Toledo, rodeado de bispos mitrados. Faz alusão a este Concílio, uma pequena cartela, cuja legenda diz : “S. PATERNO (II) ARCEBISPO QUE FOI DE BRAGA PRESIDINDO AO V CONCÍLIO DE TOLEDO” Apenas, como esclarecimento, devemos dizer que São Paterno era BISPO DE BRAGA, no ano que se realizou este concílio (400/Setembro) pois só a partir de São Geraldo (1096/1109) é que a dignidade de arcebispado foi concedida a Braga. O baptistério acolhido num arco em pedra, tem representado em azulejo “o glorioso São Gonçalo”. Aí se pode admirar uma pia baptismal, de rico lavrado, em mármore de Carrara. Na tampa de pau preto, com rica talha, vê-se na parte interior pintadas as armas de fé do arcebispo fundador do templo e ainda a data de 1908, que julgamos deve ser a da sua feitura. Em frente ao baptistério existe um arco, cuja parede interior está parcialmente forrada a azulejo e dizemos parcialmente, porque em parte foi EM TEMPOS arrancado, para ali se GUARDAR PARTE DE UM ANDOR. Toda a magnificência da azulejaria que se encontra num extraordinário efeito cénico e religioso, foi inspirada na obra de Dom Rodrigo da Cunha – História Eclesiástica de Braga. O conjunto azulejístico que encerra o templo de São Vítor, foi considerado pelo Eng. Santos Simões, então Conservador do Museu do Azulejo da Madre Deus, em Lisboa, como um dos mais ricos de Portugal, considerando-o até, em riqueza, como o segundo do País. A T A L H A Como dissemos o retábulo do altar-mor em talha dourada, é considerado pelos mais conceituados especialistas, como pertencente à primeira fase do Barroco Nacional. No entanto já não apresenta a sua visão inicial. Em meados do século dezanove sofreu algumas alterações, mais significativas na tribuna que foi alterada, por ser bastante estreita. Também a parte mais baixa foi levemente modificada e isto é notório quando se compara o ouro da parte dos lados do altar que parece não terem o mesmo brilho com a parte superior. O sanefão que encobre o arco cruzeiro, rica peça ao gosto barroco, foi executada em 1905/06, na oficina bracarense do entalhador Sousa Braga. Encobre esta peça o brasão de fé de Dom Jorge da Costa e que, segundo probabilidades devia ter pertencido à antiga igreja mandada reedificar por Dom Jorge, e tem colocado no seu centro, estilizado à italiana, as armas de fé do arcebispo Dom Luís de Sousa. Como podemos verificar as armas de fé do arcebispo fundador do actual templo, encontram-se colocadas em vários pontos – sobre o retábulo do altar-mor, no sanefão, na pia baptismal e na fachada. Sobre o que está colocado na fachada, Vaz-Osório da Nóbrega, dá-nos na sua obra “Pedras de Armas e Armas Tumulares do Distrito de Braga”, a seguinte leitura : O BRASÃO DO ARCEBISPO D. LUÍS DE SOUSA Localização: Igreja de São Vítor. Frontaria Material: Granito Época: a igreja foi principiada em 1686(…) e concluída depois do falecimento do Arcebispo D. Luís de Sousa (…) LIÇÃO HERÁLDICA: Classificação: heráldica das dignidades eclesiásticas Conjunto: -Escudo francês. -Coronel. -Cruz dupla posta em pala atrás da cartela sobre que assentam o escudo e o coronel. -Chapéu eclesiástico com cordões de seis borlas pendentes a cada lado (l, 2 e 3). Escudo: Composição: plena. Leitura: SOUSA, de Arronches. . . . / . . .


publicado por Varziano às 17:53
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