Sexta-feira, 19 de Setembro de 2008
Edificio da Camara Municipal de Braga
EDIFÍCIO DA
CÂMARA MUNICIPAL
DE
B R A G A
DESENHADO POR
André Soares ( André Soares Ribeiro da Silva (1720/1769)
e construído por :
Francisco Mendes, Cristóvão José Farto, Manuel Francisco Rato
José Alves, Manuel Gomes e outros mestres
- 2 0 0 8 –
IIIIIIIIIIIIIIIIIIIII IIIIIIIIIIIIIIIIII
IIIIIIIIIIIIIIIIIIIII IIIIIIIIIIIIIIIIII
A CASA DA CAMARA DE BRAGA
Uma lacónica notícia publicada na obra póstuma de Bernardino de Senna Freitas, “Memórias de Braga”, Tomo V, pag. 383, alertou-nos sobre as obras do edifício do “Domus Municipalis”, dizendo : “Mudou-se então a Casa da Câmara (de frente da Sé) para o Campo de Touros onde todavia não foi completa”. Ora, como Robert C. Smith, no seu magnifico trabalho , “A casa da Câmara, a pag. 24, refere: “no fim do ano de 1756, a edificação da casa da câmara, começou em 1753, chegava ao seu termo”, notamos que, entre as duas informações, algo estava de errado.
Procuramos então indagar qual das deveria estar certa. E assim consultando, no Arquivo da Câmara, deparamos com um livro, “Annaes do Município de Braga”, com a data de registo de 1852, quando era Presidente da Câmara, o 2º Barão de São Martinho, Duarte Ferreri de Gusmão, no qual estavam inscritas e consignadas “as tradições locais, cousas, e sucessos que tiverem lugar no biénio da sua presidência” e que serviu não só para o biénio de 1852/54, mas relatou até 1859, todos os principais sucessos que ocorreram nesta arquiepiscopal cidade, deparamos então com a notícia que vamos transcrever, dado o interesse para a história do nosso “palácio municipal”:
“Casa da Câmara – É digno de ser registado neste lugar a resolução da Junta Geral do Distrito, que, na Sessão Ordinária de 1856, reconheceu o crédito desta Câmara, na importância de 5.628$695 reis, proveniente de adiantamentos que esta havia feito em favor do Cofre da mesma Junta. Todas as Câmaras tinham demandado o pagamento desta dívida, mas sempre sem resultado feliz; neste ano porém poude a Câmara, à força de instantes diligências, convencer a justiça da sua causa, e a obrigação da Junta. Não era porem, ocazião oportuna, para conseguir mais que este reconhecimento, e a promessa da satisfação, por prestações em cada um dos anos futuros. E com efeito a Junta, na sua Sessão Ordinária de 1857, votou os meios para realizar o primeiro pagamento. Deste modo habilitou-se a Câmara a concluir o Paço do Concelho, obra, para que foi aplicada aquela quantia nos orçamentos de muitos anos anteriores. Era necessário, porém, expropriar parte da casa de Domingos Vieira Machado: e, não tendo podido conseguir-se deste uma convenção amigável e justa, pediu-se ao Governo que declarasse a obra de utilidade pública, para dar lugar à liquidação judicial, e a expropriação forçada; mas enviada à Secretaria do Reino o processo administrativo, instruído com audiência da parte, sem contestação desta, e acompanhada das primeiras informações, ainda até ao presente não houve solução! É de crer que esta pretensão da Câmara, tão singular e justa, e cuja utilidade se faz ver com a planta do edifício incompleto, sofra, naquela Secretaria mais uma dessas contrariedades singulares, com que tem sido recebidas todas as deliberações desta Câmara, levadas à aprovação do Governo.”
Ora, em face desta nota do Anaes referidos, se depreende que o edifício não estava completo em 1756, como afirma Smith, o que se prova não só por um desenho inserido nas “Memórias de Braga”, de 1834, manuscrito e ilustrado por João Batista Vieira Gomes, conhecido pelo “Dr. Chasco”, exemplar em depósito na Biblioteca Pública, como também pelo livro de Actas Camarárias de 1857, em que se lê o pedido feito ao Governo para “declarar de utilidade pública a conclusão do Paço do Concelho”, afim de que a Câmara ser autorizada a expropriar a casa contígua ao inacabado edifício municipal, pertença de Domingos José Vieira Machado.
Não foi fácil a expropriação, pois sempre Domingos Machado lançava objecções e as negociações se foram arrastando por vários anos, até que finalmente em 1861, se chegou a acordo tendo a Câmara pago pela expropriação a quantia de dois contos de reis.
Resolvido o diferendo, lançaram-se os edis, nas necessárias diligências para finalmente vir a acabar-se o edifício da “Domus Municipalis”, o que se veio a concretizar, decorria o ano de 1865.
E assim, a Câmara Municipal, cujo risco está documentado se deve ao “arquitecto do Minho”, André Soares (André Soares Ribeiro da Silva), se completou dando-nos o aspecto que hoje tem.
Iniciado portanto, em 1753, como vimos sob projecto de André Soares, esta nova maravilha do barroco, é considerada pelo crítico de arte Robert C. Smith, como “uma das verdadeiras obras primas da arquitectura civil setecentista da Península Ibérica”. Esta sua opinião foi baseada na proporção do edifício e na firme lavoura do seu enquadramento granítico. Segundo a sua avaliação, disse, “ser digno de nota o motivo central em que as volutas borrominianas (influência italiana) de grande originalidade rematam na porta principal o frontão que encima a construção e que revela um artista de apurado gosto, visão arquitectónica e dinamismo”.
Entre o frontão onde se destacam, sobrepostas, várias cartelas e a entrada principal, num nicho primorosamente lavrado, vê-se a imagem de Nossa Senhora do Livramento, colocada sobre um acrotério, escultura que se encontrava na antiga Câmara, na Sé, e que depois do seu derrube esteve até 1950, encerrada na Capela dos Reis, na Sé e, até que, quando era Presidente da Câmara o Dr. Araújo Malheiro, passou a ocupar o seu lugar na sua Casa, o nicho da fachada da Câmara.
Note-se a simetria entre todas as janelas do rés-do-chão e as portas e varandas do primeiro andar, entre as quais está o referido nicho.
O edifício camarário ao longo dos anos sofreu várias obras de beneficiação e melhorias, uma das quais foi o arranjo do Salão Nobre, cujas pinturas parietais se devem ao artista bracarense Joaquim da Costa Carvalho, que em 2 de Dezembro de 1884, apresentou e foi aceite “a proposta para a pintura e decoração do Salão Nobre… pela quantia de 600$000 reis”, a feitura do tecto da Escada Nobre, tecto em gesso, trabalho pelo Mestre Moreta, Joaquim da Silva Gonçalves, e que nos dá a ilusão de ser de madeira, e ainda, na primeira dezena do século XX, a colocação de azulejos na entrada e lambris da escada, azulejos da Fábrica Carvalinho, do Porto e cujas pinturas representam vários aspectos de Braga, alguns já desaparecidos.
. . . / . . .