RUA ANTÓNIO PEIXOTO ( Pachancho )
Situada também na Urbanização de Infias, a rua António Peixoto, tem o seu início na rua Feliciano Ramos, logo por perto onde o conhecido industrial bracarense acabou por instalar a Fábrica Pachancho que, como sabemos, deu vida aos pavilhões que por volta da primeira ou segunda dezena do século XX, o Hospital da Misericórdia principiou por edificar para umas novas instalações dos serviços hospitalares de Braga, obra que não se chegou a concretizar devido a vários factores entre os quais não devia ser estranho o facto da eclosão da Primeira Grande Guerra.
Desde cedo, António Peixoto, se interessou pelo ramo automóvel, podendo mesmo afirmar-se que o interesse por esta actividade, deve ter sido iniciada quando, mocinho ainda viu, pela primeira vez, “como a cidade em peso, um automóvel subir a rua do Souto, dar uma volta à Avenida, deter-se em Frente da Arcada” ou, mais tarde, como motorista do “Panhard” da famosa Dona Chica, subir a rua de Santa Margarida, a caminho do Castelo de Palmeira.
Dona Maria Rego, uma excêntrica milionária, recordada ainda hoje pela sua extravagância “que despendeu muitos milhares a comprar palácios e a edificar inexplicáveis castelos bretões na Paisagem minhota” , tinha quatro automóveis e três motoristas, e um deles foi o Pachancho, que imediatamente assumiu à qualidade de motorista-chefe.
Em 20 de Outubro de 1920, êste grande industrial bracarense, com um reduzido número de operários ( apenas sete ), na então pacata rua de Santo André, começou a exercer a sua actividade com uma oficina de serralharia mecânica. Pouco depois dedicou-se também a outros ramos de especialidade: reparações de automóveis, fabrico de peças em pequena escala, etc. Após um ou dois anos de actividade alargou o seu campo de acção, e principiou a fabricar motores de explosão, especialmente dedicados para a rega, motores que alcançaram grande sucesso como produtos de grande nomeada.
O sucesso alcançado levaram-no a transformar e mudar a sua oficina para Infias, para os citados pavilhões do hospital, onde numa verdadeira linha de montagem, principiou a fabricar em série peças destinadas a automóveis: pistões em alumínio e ferro, segmentos de compressão, cavilhas de pistões, camisas para cilindros, culatras, válvulas, enfim todos os acessórios necessários para os motores.
Um dos produtos que mais fama deram à Fábrica Pachancho, foram os amortecedores hidráulicos, de grande preferência internacional, que originaram até que a fábrica passasse a denominar-se “Fábrica Nacional de Pistões Pachancho”.
Tendo tomado parte em certames nacionais e estrangeiros, foi diversas vezes distinguido como na Grande Exposição Industrial Portuguesa de 1932, onde obteve dois diplomas de Medalha de Ouro e um de Prata; 8º. Salão Automóvel (Palácio de Cristal) Porto, 1932, Medalha de Ouro; Exposição Colonial, Porto, Medalha de Ouro e outras muito mais exposições que seria fastidioso enumerar.
Quando António Peixoto abriu a sua pequena oficina, já pelas estradas portuguesas circulavam os primeiros automóveis e camionetas que o País vira. As péssimas estradas de então, proporcionavam avarias constantes, desgastes de peças, carros parados empanados nas valetas. As reparações levantavam um problema difícil de resolver: a falta de peças para substituir as que se haviam inutilizado, era notória. Pachancho, com a sua visão de homem de futuros horizontes, achou que o remédio era produzi-las. E assim fez.
Apesar de os seus conhecimentos das leis da química e da física que reagem
à mistura da dose de carvão necessário ao ferro, uma conhecimento intuitivo das temperaturas, o seu olhar experiente, colmatava o seu desconhecimento técnico. Era, de facto, um ser excepcional. Um exemplo disso tivemos conhecimento. No final da Guerra de 39/45, uma avaria na máquina de projecção do Teatro Circo, deu como resultado que a peça se tornava insubstituível pela sua falta no mercado. A Alemanha de então não estava em condições de, rapidamente, fornecer uma substituta e, no mercado nacional, não havia em stok.
Alguém lembrou, a Fábrica Pachancho, é a solução. E assim foi. António Peixoto, ao ver a peça logo indicou o bronze especial de que era feita e se encarregou de nesse mesmo dia a produzir. Nem sequer um dia se deixou de dar espectáculos cinematográficos, graças ao saber do grande industrial Pachancho.
Por estes anos lançou-se ao fabrico de bicicletas motorizadas, e elas imediatamente tiveram aceitação não só no País como no estrangeiro. Mas uma coisa que ele não consegui concretizar e que se o tivesse atingido, certamente Braga, estaria hoje colocada a nível das grandes cidades industriais do Universo.
Por uma acta da Câmara de Braga, soubemos que António Peixoto, chegou a pedir um alvará, que lhe foi concedido, para a construção na sua fábrica de veículos automóveis.
Bracarense de origem modesta, de seu nome completo António Gomes do Vale Peixoto, nasceu numa Noite de Natal, na freguesia de Maximinos, e o seu apogeu industrial deu-se quando Braga estava prestes a entrar em crise pela passagem para São João da Madeira da indústria que até então mantinha a cidade numa certa prosperidade - as fábricas de chapéus e calçado – e faleceu na sua casa da rua de Santo André, no dia 31 de Março de 1958, deixando para a posteridade um nome que honra a cidade que o viu nascer – PACHANCHO.
Braga, 18 de Maio de 2008
LUÍS COSTA