Sábado, 19 de Dezembro de 2009
Bom Jesus 7
Caderno nº 7 Bom Jesus (1 do c.7) Finalmente estamos a chegar ao cimo dos monumentais escadórios. A terceira e última fonte alegórica, simboliza a: C A R I D A D E Esta virtude é representada por duas crianças de pé, tendo nas mãos um coração de onde sai um fio de água. Em plano superior, uma mulher de alegre semblante, sustenta duas crianças nos braços. Uma inscrição diz: São três estas virtudes… a maior, porém, é a da caridade. Do lado esquerdo do patamar, esta figura da Benignidade. Uma avantajada mulher, coroada com um diadema representado o Sol, está encostada a um elefante e segura um ramo de oliveira na mão direita. É o Símbolo da Paz, e a inscrição reza Paz seja aos irmãos e caridade com fé. Termina este escadório das Três Virtudes num patamar onde existem duas pequenas capelas, em de cada lado, com ornamentação Luís XVI. Uma tem S. Pedro por padroeiro, e mostra-nos o chaveiro do Céu, chorando o pecado de ter negado Cristo. No cimo da porta, a legenda refere: E Pedro, saindo para fora, chorou amargamente. Em frente, a outra, representa a gruta onde Maria Madalena se penitenciou escondida do mundo. A imagem da Santa está de pé a olhar para os anjos. Esta imagem ou este conjunto deve ter pertencido à pequena ermida a que fizemos referência no caderno nº 6. No pórtico, no arco, está a inscrição: Maria escolheu a melhor parte que lhe não será tirada. É no paredão adjacente a estas capelas está a lápide e o brasão de Dom Jorge da Costa, com o símbolo do Deão Dom João da Guarda, que mandou nos finais do século XV, fazer a igreja que foi depois demolida como já nos referimos. Este escadório das Virtudes, muito embora tenha sido deliberado pela Confraria ser construído anos antes só o foi mais tardiamente e deve-se ao risco do arquitecto Carlos Amarante, de quem falaremos ao mencionar o novo e actual templo, fazendo parte do projecto da conclusão do Santuário. O TERREIRO DE MOISÉS Antigamente este local era denominado por o Miradouro e dava e dá acesso ao Terreiro de Moisés. O nome de Moisés foi atribuído por a figura que representa o libertador e legislador de Israel, livrando o seu povo da escravidão no Egipto, quando do êxodo fez brotar, em pleno deserto, batendo numa fraga água para acalmar a sede dos fugitivos. Hoje esta estátua, retirada do primitivo local sobre a fonte da Cascata, foi ocupar o cimo de um penedo, na Mãe de Água, numa alusão ao milagre, com o gesto de com uma vara batendo no penedo faz brotar a água que alimenta o lago, de que falaremos mais adiante. Esta parte do imponente monumento, diz o Dr. Manuel Monteiro, no seu roteiro de Braga, editado pelos finais dos anos vinte do século XX “é um dos mais impressionantes lugares do Bom Jesus. Em curva elíptica, é talvez o mais belo trecho da arquitectura de jardins existentes em Portugal”. A beleza do traçado, as admiráveis proporções, são também devidas a Amarante. Era ali que terminava a obra de Dom Rodrigo, e pela deslumbrante paisagem que se avista sobre a cidade era porque se chamava ao local, o Miradouro. Na parede fronteira deste lindíssimo recinto está uma graciosa fonte, denominada a cascata, onde de vê a figura de um pelicano, rasgando o seu peito, para com a sua carne alimentar os filhos à sua volta. Da ferida escorre uma abundante água que cai em abundância em três taças, e por fim é recolhida ao nível do chão numa bacia. É também conhecida esta fonte por a Fonte do Pelicano e, como de certa maneira esta relacionada com a família, serve de pano de fundo a muitos noivos do Bom Jesus, para se fotografarem par recordar mais tarde. Daqui partem as duas escadas helicoidais, que completam este gracioso conjunto e dão acesso ao adro da igreja. Em cada lado deste terreiro, escadas levam-nos às duas últimas capelas deste conjunto desta monumental. A da direita, ou seja do lado Sul, figura-se a Capela da E L E V A Ç Ã O É a capela mais recente. Numa gravura, datada possivelmente de meados do século XIX, apresenta a capela, com o nº 17, dizendo “Capela que se tem de fazer”. Apresenta o quadro de Cristo pregado na cruz no momento e, que é erguido no Calvário. Sobre a porta a inscrição diz: E quando eu for levantado da terra todas as coisas atraírem a mim A outra capela, situada no lado Norte, está outro passo, o do D E S C I M E N T O Retrata o descimento de Cristo da Cruz, onde estava pregado. As figuras deste quadro, inspirado num quadro de um célebre pintor, foram executadas em madeira pelo escultor Fonseca Lapa. A inscrição colocada, como as demais, sobre a portada, refere: Tirando-o do madeiro. Talvez não seja inconveniente voltarmos um pouco atrás e falarmos de novo, para um mais completo conhecimento do que era a igreja mandada fazer pelo arcebispo Moura Telles. Segundo o livro “Bom Jesus do Monte” do consagrado primeiro bibliotecário da actual Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Braga, Dr. Alberto Feio, “Era uma curiosa e elegante construção elipsoidal, rematando em platibanda rendilhada a voltear sobre a cornija.” Pode observar-se, embora com alguma dificuldade, pelo desenho inserido neste trabalho e que nos mostra o aspecto primitivo do Bom Jesus, isto como era no ano de 1725. Tinha à sua volta pilastras em contraforte, que eram encimadas por anjos com emblemas da Paixão. Apesar da sua originalidade arquitectónica, não foi cuidada a sua segurança técnica, e pouco mais de meio século, em 1780, apresentava a construção sinais de ruína iminente. As paredes, com já dissemos, tiveram de ser escoradas por grossos troncos. Pensou a Confraria em dar solução a este estado do templo. Ouvidas várias opiniões, não chegavam a acordo a Mesa e os Confrades, diziam uns deve fazer-se um novo templo, derribando o actual. Outros pelo contrário achavam que se devia reparar o actual, dado que a Confraria, não deveria meter-se em grandes e dispendiosas quantias. Dado o exemplo anterior, recorreu-se de novo a autoridade máxima religiosa de Braga, ao arcebispo Dom Gaspar de Bragança, para resolver o diferendo. O NOVO TEMPLO O arcebispo recorreu ao conselho de Carlos Amarante que já tinha dado provas do seu saber e, em determinado dia, mandou aprestar o seu coche, puchado por parelha de urcos, abalou acompanhado de Amarante, até à colina do Bom Jesus. Depois de uma análise ao estado da igreja, e aconselhado pelo seu arquitecto, ordenou a demolição do templo em ruína e se escolhesse outro local, por perto e se construísse um novo templo de cujo projecto seria aberto um concurso. Vários foram apresentados. A Mesa Administrativa, apesar de todas as tentativas de alguns mesários contrariando a construção determinada pelo arcebispo votou, em acórdão de 22 de Junho de 1780, confirmada logo a seguir em 1 de Julho, a nova construção. E assim, depois de ouvidas várias opiniões de pessoas de considerada autoridade na apreciação do projecto, optou-se pelo voto do arcebispo e projecto de Carlos Amarante, e em 1 de Junho de 1784, foi lançada à terra e benzida a primeira pedra da nova construção, pelo Provisor do Arcebispado, Dr. Paulo de Barros Pereira. Para levar a efeito este empreendimento, foi necessário recorrer a vários recursos monetários, já que a oposição contra a Mesa, tinha obrigado a que a obra teria que ser feita com a recolha de esmolas e não com fundos da Confraria. Para isso a Mesa, certamente com o beneplácito de Dom Gaspar, consegui provisões régias que a autorizavam a pedir esmolas no Reino, Brasil e mais Colónias para a obra da nova igreja. Por sua vez, Dom Gaspar, concedeu licença aos lavradores, oficiais e jornaleiros, para poderem trabalhar na construção aos domingos e dias santificados. Apesar de todas as ajudas que se seguiram, os recursos iam chegando à míngua, a obra iam consumindo esmolas – por exemplo as colunas gigantes da frontaria, vindas de S. Bento de Donim, no chão de Felgueiras, tinham exaurido o cofre as esmolas - tendo como consequência que a obra ia prosseguindo vagarosamente. Também por certo, as consequências das Invasões Francesas, logo seguidas pelas Lutas Liberais, devem ter contribuído, para que o novo templo fosse sagrado muito mais tarde, apesar de graças à liberalidade do devoto bracarense – Pedro José da Silva – grande negociante em Lisboa, ter contribuído generosamente para que fosse levada a efeito a obra delineada por Amarante, e tivesse sido colocado a última pedra do templo, pela mão do benemérito Pedro José da Silva, no dia 20 de Setembro de 1811. No entanto, como já dissemos, talvez devido aos conturbados tempos da primeira metade do século XIX, a nova igreja só foi sagrada em 10 de Agosto de 1857, pelo arcebispo Dom José Joaquim de Azevedo e Moura, decorrendo, portanto, 73 anos entre o início da construção e a sagração do templo. Há até um aspecto curioso que, de certa maneira, vem confirmar o que acima dizemos. Há tempos um musicólogo americano em visita ao Bom Jesus, ao ouvir o carrilhão, notou que o som de um sino era igual ao timbre do som de uma igreja de uma linha baleeira da costa americana. Curioso, na sua volta à América, procurou indagar o mistério do som e, subindo à torre sineira, deparou na inscrição do sino os dizeres: BOM JESUS - 1810. Nas suas investigações soube que o sino tinha sido oferecido aquela igreja por um oficial de marinha, e o tinha comprado a um soldado em Portugal. Em carta enviado ao falecido amigo Bacelar Ferreira, do Arquivo Municipal, pediu-lhe o favor de verificar se, nas torres sineiras do Templo do Bom Jesus, faltava algum sino. A pedido do meu amigo diligenciamos, e soubemos que não faltava no carrilhão qualquer sino. Consultados os Livros de Actas da Confraria, constava neles apenas referências que os soldados de Napoleão, tinham estado no Bom Jesus, provocando alguns danos, mas quanto a sinos, referem apenas que tinham sido encomendados a uma fábrica de Lisboa. Deve ter sido roubado nessa oficina, pois nessa data ainda se encontravam na fábrica, só sendo remetidos muito mais tarde para Braga. Como vemos, o templo do Bom Jesus, vasta em construção em granito, gizado e delineado por Carlos Amarante, sofreu muitas vicissitudes até chegar ao seu completo acabamento. Três ordens clássicas impõem-se na fachada que tem a coroá-la duas torres de proporções notáveis. Em cada lado da porta principal dois nichos, um em cada lado albergam, entre monumentais colunas cilíndricas, as figuras dos profetas Jeremias e Isaías. Na peanha destas esculturas, a inscrição da do lado direito tem esta inscrição: Ouvi a palavra do Senhor…vós que entrais por estas portas para adorares ao Senhor A lado esquerdo diz: Vós o vereis, e folgará o vosso coração, e vossos ossos como erva brotarão Por baixo das grandes janelas das torres, em compridas lápides estão inscritas as graças espirituais concedidas pelos Papas Pio VI e Pio IX aos visitantes devotos do Bom Jesus e sagração solene da igreja. No entablamento, decorado com friso com triglifos, uma inscrição reza: E nos últimos dias estará preparado o monte da casa do Senhor no cume dos montes, e se elevará sobre os outeiros e com concorrerão a ele todas as gentes. (3 do c. 7) …/… continua no caderno 8


publicado por Varziano às 19:18
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